Tu perguntas-me porque é que eu não tenho namorado como quem tenta descobrir o meu defeito. Eu digo que não sou assim tão fácil, como quem responde “perfeccionista” quando lhe perguntam o seu maior defeito. Não é mentira, mas também não é por isso. Eu podia colocar a culpa nos homens e dizer que é difícil comprometer-se hoje em dia. Eu podia colocar a culpa “nos tempos” e dizer que é difícil admirar. Eu podia até fazer como aquelas pessoas que dizem “se tu estás sozinha é porque tu és chata” e ficar a redimir-me pelos cantos, mas nada disso seria sincero.
O que eu tenho pensado ultimamente e que me tem trazido alguma calma é que o amor é muito específico. Não é mesmo fácil encontrar amor sincero. Aparência, interesses comuns e vida profissional são apenas critérios genéricos. Se não fossem, a plataforma do amor seria o Linkedin.
Não é assim que funciona. Pelo menos para mim. Eu sempre estranhei aquelas pessoas que conseguem arranjar um namoro pouco tempo depois de terem terminado um. Sai um, entra outro e fica tudo bem. Antes achava que essas pessoas tinham muita sorte. Hoje penso que talvez sejam mais flexíveis. Talvez valorizem mais a companhia do que a pessoa. Gostem da estabilidade de ter alguém a seu lado. Adaptam-se melhor ao outro, enquanto que eu me prendo a detalhes.
Apaixonante para mim é o homem que trata com educação o empregado de mesa. Que me chama de uma maneira fofa. Que tem pensamentos bonitos. Que consegue desenrolar uma conversa agradável numa festa cheia de desconhecidos.
Pode parecer loucura, mas para mim a paixão está intimamente ligada ao tom de voz e à qualidade da playlist. Gosto de quem me olha com inteligência, de quem me abraça com vontade, de quem não se expõe demasiado.
Toda a vez que eu vejo um casal feliz, imagino que eles sejam resultado de algum alinhamento cósmico super complicado. Se já é difícil amar alguém, imagina amar alguém que te ama de volta. Que também valoriza em ti o que mais ninguém percebe. Considero que é uma missão difícil fazer-se insubstituível na vida de alguém num mundo em que ninguém mais levanta a cabeça, tão entretidos que estamos com o visor do telefone.
Como disse uma amiga, a questão não é ter um namorado: é ter o namorado certo. Enquanto ele não chega, eu trabalho, saio, vou ao ginásio. Também tenho os meus momentos menos bons, mas não há muito que eu possa fazer. Preciso ter paciência para esperar o que mereço. Estou sozinha e não é culpa minha. O amor é raro.