Nascemos, vivemos e morremos

Estive pensando na vida, como é difícil viver! Quando somos crianças, é mais fácil temos a única obrigação de brincar sem se machucar e sujar a roupa, quando adolescentes temos que estudar feito uns loucos para passar no vestibular, tem que se preocupar com a roupa que será usada no dia seguinte, com a falta de dinheiro, com as espinhas e com os amores, que nunca dão certo, tornamos adultos. E temos que fazer supermercado, lavar as roupas, que já não são tantas como antes, lavar a casa, cuidar do cachorro, (temos que ter um cachorro.) ensinar a lição para os filhos, pagar contas, ser equilibrado o suficiente para manter uma relação amorosa com seu conjugue, trabalhamos tanto que nem notamos a velhice chegar, e ela chega! E ficamos velhos, a vida inteira conquistando coisas, realizando sonhos, e depois ficamos velhos há esperar a morte, vivemos para no final morrermos?

Um dia visitando a histórica cidade de Goiás, encontrei uma senhora sentada em frente sua casa onde havia um brasão no alto da porta, típico da cidade, era uma senhora já bem de idade, já era de ‘tardezinha’ e aquele sol, que parece existir só naquela cidade, se escondia atrás da velha casa, me aproximei e pedi um pouco de água e ela sorrindo me pediu para esperar, mesmo do lado de fora da casa pude escutar as pisadas lentas da senhora nas madeiras já empenadas da casa, ela me trouxe uma garrafa de vidro com água cristalina e em uma temperatura que parecia ter sido controlada pela senhora, entre um gole e outro eu fui conversando com Dona Betina, que me contou algumas historias, ate cair à noite, como ela fugiu de sua casa no Rio De Janeiro com uma amiga ate chegar a Goiás, como ela chegou à cidade, como ela foi morar na casa da família Caiado, sobre os fantasmas que segundo ela habita aquela casa.

“(…) a vida para aquela senhora que parecia ter saído de algum filme infantil é simplesmente um livro cheio de historias para contar (…)”

Como é gostoso ouvir historias de uma pessoa que já viu tanto, que viu sua cidade ser tombada e virar Patrimônio Histórico da Humanidade, que viu tantas cheias no Rio Vermelho, que já comeu os doces feitos pela poetisa Cora Coralina. Mesmo com uma idade já avançada ela não pensava na morte, e para que pensar na morte se ela tem tantas historias para contar, tantas lembranças pra relembrar, tanta vida para viver, a morte não é vista pela Dona Betina como uma coisa triste e sim como um final de um livro que sempre tem escrito FIM, e algum leitor deve ter lido, e pode sair contando o que leu, a vida para aquela senhora que parecia ter saído de algum filme infantil é simplesmente um livro cheio de historias para contar, e aquele dia eu pude ler varias paginas daquele livro chamado Betina.

É sempre bom escutar os que os velhos têm a nos dizer, sempre me lembrarei da senhora de cabelos brancos de rosto enrugado e sorriso acolhedor, que me deu um copo de água e partir dali me explicou um pouco sobre a vida, sobre o fim da vida. Um dia serei um velho e quando meu dia chegar, quando meu olhar não tiver mais brilho, quando meus cabelos estiverem brancos, vou contar minhas historias, e uma delas será sobre uma velhinha moradora da cidade de Goiás, que adora contar historia e fica a esperar que a morte não venha tão amarga, que a toque docemente e, sobretudo com paixão.

Por: Robson Rocha @ Instagram





Relaxa, dá largas à tua imaginação, identifica-te!