Agora, aqui, após este término mal dito, eu permaneço estagnada ao lado do teu cheiro perfumado em meu travesseiro junto a todas as lembranças de nós em cada canto deste apartamento miúdo. Nem notei a tua partida pela porta da frente. Você tentou fugir sem deixar vestígios do crime que cometeu quando assassinou os meus sentimentos mais bonitos por você. Mas de fato não conseguiu, pois deixaste pistas de tamanha atrocidade que fez aqui dentro.
“..deixou vestígios do teu cheiro, deixou vestígios em tua toalha, deixou tuas lembranças de um domingo de tarde..”
Por tua causa eu passei a odiar as tardes de domingo.
Teu vendaval de friezas vazias acabou com o meu peito-abrigo que servia de descanso para as tuas fortes dores. Você estragou o meu filme francês favorito. Conseguiu fazer com que minha música mais querida perdesse o efeito nostálgico que costumava fazer um bem danado pro meu coração. Você desmanchou um laço bonito que construímos depois de longos e lindos anos juntos. E só por tua causa eu passei a odiar todos os dias de domingo.
“..Você vai ligar eu sei,
mas eu não vou atender
você vai implorar eu sei,
mas eu não vou lhe perdoar
Você vai derramar lágrimas eu sei,
mas eu não vou estar aqui pra secar..”
A gente cresce e amadurece com o tempo. E neste processo, aprendemos que não vale a pena dar corda para um navio que com toda a certeza do mundo irar afundar.
Você se foi assim sem deixar aviso prévio pela porta da frente. Sem deixar palavras sinceras por qual motivo teve que partir.
Você se foi numa tarde de domingo sem me dar qualquer explicação do teu sumiço inesperado. Deixou cacos do meu coração pelo chão.
“..Deixou tudo bagunçado
nem arrumou a minha sala
ou meu quarto
ou o terraço
muito menos o meu coração..”
Mas sempre vem alguém por aí. Por estas esquinas da vida alguém sempre nos abraça forte. E quando esse alguém chegar, ele vai arrumar toda esta maldita bagunça que você causou aqui dentro. E quando você perceber, eu vou ter sumido em uma tarde de domingo pela porta da frente sem deixar quaisquer rastros do meu sumiço.
E quem sabe os dias de domingo voltem a fazer algum sentido.
Por: Pedro Ficarelli