Uma jovem, que vivia com os pais e seis irmãos na cidade de Chapadinha, no Estado do Maranhão, aos 12 anos de idade foi levada de casa durante um feriado da Semana Santa, inicialmente, para passar alguns dias com a madrinha em Teresina, Piauí, Brasil. No entanto, ela nunca mais ela voltou para sua casa.
Foi então que a vida de Janaína dos Santos se tornou uma rotina de escravidão, agressões, ameaças e perda de qualquer liberdade, que durou 15 anos de cárcere.
Janaína, de 27 anos, não se lembra da data em que faz aniversário e nunca foi a qualquer médico nem a um hospital, mesmo quando sofreu com crises de cólica renal, que causam dores muito intensas.
Depois de ir para Teresina nunca frequentou a escola, não aprendeu a ler e escrever nem teve qualquer convivência com outras crianças ou adolescentes. Ela contou que não podia de sair de casa e fazer amizades e era obrigada a realizar todas as tarefas domésticas na casa da Francisca Danielly Mesquita Medeiros, sem receber nada.
“Nunca recebi salário, sempre vivi sem ajuda, nem pra comprar roupa, ela não me pagava um centavo. [Para comprar produtos de higiene pessoal] eu pedia ao companheiro dela, ele me dava dinheiro pra eu comprar. Eu recebia tudo usado, ela só me dava quando não prestava mais”, contou Janaína ao g1.
Além das brigas entre o casal, as agressões, físicas, verbais e psicológicas também eram contra Janaína, que afirma que apenas Danielly a agredia.
“Ontem mesmo ela falou tanto nome que doeu meu coração, e eu nunca respondia ela, ela me xingava, mas eu não xingava, não dizia nada. Eu não tinha amigos, não podia sair, a última vez que saí foi segunda-feira, mas ela tomou minha chave, me punia. Eu só saía pra comprar coisas e voltar pra casa. Eu sentia tristeza, chorava sozinha, não gostava da minha vida. Pedia a Deus que me tirasse dali”, contou.
Janaína tentou fugir algumas vezes, mas tinha muito medo de ser morta pela madrinha. “O pior dia foi na segunda-feira, quando ela ameaçou arrancar meu coração, ela quebrou um casco de cerveja, chegou bem perto de mim, e disse que ia tirar meu coração”, descreveu.
A mãe da jovem, Maria do Socorro, é prima e comadre da suspeita dos crimes contra Janaína. Ela afirma que durante os 15 anos em que a filha foi mantida em cárcere, ela tentou ir até Teresina, mas não tinha endereço e também era ameaçada.
Janaína era mantida em cárcere, mas nas raras vezes que saía, era pra levar o menino da qual cuidava para sessões de tratamento e para a escola, já que a criança tem Transtorno do Espectro Autista (TEA).
Nesse trajeto, ela conheceu o namorado, o mecânico Osmar Rodrigues, de 58 anos. Ele foi como um verdadeiro “anjo da guarda” na vida dela, pois quando soube a situação em que ela vivia e que era mantida em cárcere, procurou a polícia.
Osmar decidiu buscou a família de Janaína no Maranhão e, juntos, fizeram a denúncia à polícia, que resgatou a jovem.
“Vamos buscar os direitos dela na Justiça, já que a questão criminal já está em andamento com o inquérito policial. A suspeita está presa temporariamente e logo deve ser solicitada a prisão preventiva. Vamos pedir indenização por danos morais, por todo o trauma causado, as ameaças, os anos de vida e convivência com a família que lhe foram tirados. Além dos direitos trabalhistas dos últimos cinco anos [conforme prazo de prescrição previsto em lei], como salário, férias e 13º”, explicou a advogada.
A suspeita de manter a própria afilhada em cárcere privado e situação análoga à escravidão por 15 anos, é servidora pública, empresária e já foi candidata a deputada federal no Piauí nas eleições de 2018.
A jovem revelou que ainda não teve tempo de sonhar, não sabe o que quer fazer futuramente, mas planeja voltar logo à estudar e viver próximo das pessoas que ama: seus pais, irmãos e o namorado.
Com informações: g1
Imagem de Capa: TV Clube