Estudo revela a causa do aumento de casos de câncer no mundo

Um estudo que envolveu diversos centros de pesquisa global sugere que o aumento de leucemia infantil pode ser pelo uso do glifosato, um dos tipos de agrotóxicos mais usado no mundo.

Dados iniciais sobre o uso da substância revelam que mesmo em doses baixíssimas e consideradas seguras pelas agências reguladoras, o herbicida causa leucemia em ratos. E que ainda, metade das cobaias morreu em idade precoce.

De acordo com o Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos, só no país, os casos de leucemia em crianças e adolescentes aumentaram 35% desde 1975. E a cada ano, aumenta em torno de 1%. A leucemia é agora, de longe, o tipo de câncer mais comum em crianças.

“Quando você observa um aumento como esse – tão rápido – em um curto período de tempo, muito provavelmente será impulsionado por alguma exposição a fatores ambientais”, disse recentemente Catherine Metayer, professora adjunta da Escola de Saúde Pública da Universidade da Califórnia, em Berkeley.

Resultado do estudo com glifosato

“Cerca de metade das mortes por leucemia observadas em ratos expostos ao glifosato e herbicidas à base de glifosato ocorreram em menos de um ano de vida. Por outro lado, nenhum caso de leucemia foi observado com menos de um ano de idade em mais de 1.600 ratos estudados nas últimas duas décadas pelo Programa Nacional de Toxicologia dos EUA (NTP) e pelo Instituto Ramazzini”, disse Daniele Mandrioli, coordenadora do Estudo Global sobre Glifosato e diretora do Instituto Ramazzini, em Bolonha, na Itália.

Entre as pesquisas, estão os impactos sobre glifosato e herbicidas derivados no surgimento de diversos tipos de câncer, neurotoxicidade, efeitos multigeracionais, toxicidade de órgãos, desregulação endócrina e toxicidade no desenvolvimento pré-natal. Vários artigos revisados por pares do estudo serão publicados a partir do início de 2024.

“Essas descobertas são de tanta relevância para a saúde pública que decidimos que era vital apresentá-las agora, antes da publicação. Os dados completos serão disponibilizados publicamente e submetidos para publicação em revista científica nas próximas semanas”, disse Daniele Mandrioli.

Uso do glifosato

O glifosato é o agrotóxico mais vendido no Brasil e no mundo. O herbicida é utilizado para eliminar as ervas daninhas antes do início da safra, sendo capaz de controlar mais de 150 espécies.

Seu uso foi popularizado na agricultura brasileira a partir da introdução da soja transgênica, e também é utlizada lavouras de outros grãos e cereais, frutas e pastagem.

Em 2015, a Organização Mundial da Saúde (OMS) classificou o glifosato como perigoso para a saúde humana e “provável cancerígeno para humanos”. A autorização do glifosato na União Europeia expira em 15 de dezembro deste ano, e não há maioria entre os países pela renovação.

A França, maior potência agrícola do grupo, e a Alemanha, são contrários aos agrotóxicos. Devido a estudos que relacionam o glifosato ao câncer, o produto já está banido na Alemanha e Áustria.

Nos Estados Unidos, a Agência de Proteção Ambiental, que não considera o glifosato canceríeno, está reavaliando o registro. Nos últimos anos, a suprema corte do país já condenou a Bayer, que comprou a Monsanto, a indenizar vítimas do glifosato, muitas delas por ter desenvolvido leucemia.

As conclusões sobre a toxicidade do glifosato, que foram publicadas no final de 2022 e apresentadas ao Parlamento da UE em 2023, também mostraram efeitos adversos em doses que são atualmente consideradas seguras na UE (0,5 mg/kg pc/ dia, equivalente à Dose Diária Aceitável na UE).

Imagem de Capa: Canva





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