Um aditivo plástico comum encontrado em tudo, desde chupetas até latas de metal para alimentos e até mesmo recibos de papel, foi associado a um risco maior de autismo em meninos.
Uma recente pesquisa, que acompanhou o desenvolvimento de mais de 600 bebês, descobriu que uma mãe grávida com níveis mais altos de bisfenol A (BPA) presente na urina tinham as chances triplicadas do filho desenvolver sintomas de autismo aos dois anos de idade.
E ainda, que esses mesmos meninos tinham seis vezes mais probabilidade de serem diagnosticados com autismo aos 11 anos — em comparação às mães que tinham níveis mais baixos de BPA durante a gravidez.
Mas o que é BPA?
O bisfenol A, conhecido como BPA, é um produto químico destinado a endurecer plásticos e evitar que metais enferrujem, entre outros usos. O BPA também já foi associado a maiores riscos de obesidade, asma, diabetes e doenças cardíacas ao longo de mais de duas décadas de pesquisa sobre o composto.
O estudo, realizado na Austrália, além de pesquisar mais de 600 crianças humanas, rastreadas desde 2010, também testou ratos de laboratório para rastrear o efeito que o BPA tem no desenvolvimento cerebral e no autismo.
Através de fotomicrografias de neurônios corticais, foi possível ver o impacto prejudicial causado pelo BPA nos ratos de laboratório.
O BPA também foi apelidado de substância química que “muda de gênero” devido ao seu papel aparente de estimular perturbações hormonais e sexuais em humanos, peixes e outras espécies.
No entanto, a pesquisa não apenas identificou a ligação, como também revelou evidências que ajudam a desvendar as reações químicas específicas que contribuem para os casos de autismo.
“Nosso trabalho é importante porque demonstra um dos mecanismos biológicos potencialmente envolvidos”, disse a epidemiologista e médica de saúde pública Dra. Anne-Louise Ponsonby, em uma declaração sobre o estudo de sua equipe.
“O BPA pode interromper o desenvolvimento do cérebro fetal masculino controlado por hormônios de várias maneiras”, explicou a Dra. Ponsonby, “incluindo o silenciamento de uma enzima essencial, a aromatase, que controla os neuro-hormônios e é especialmente importante no desenvolvimento do cérebro fetal masculino”.
A aromatase, observou o novo estudo, ajuda a converter alguns hormônios sexuais masculinos no cérebro, conhecidos como andrógenos neurais, em estrogênios neurais.
Esses estrogênios ajudam todas as pessoas, independentemente do sexo, a regular a inflamação no cérebro, manter a flexibilidade das sinapses que auxiliam a comunicação dos neurônios em todo o sistema nervoso e também auxiliam no controle do colesterol.
O cérebro é o órgão mais rico em colesterol do corpo humano — ele utiliza cerca de 20% das reservas dessas moléculas de gordura do corpo para realizar suas funções vitais.
“Descobrimos que o BPA suprime a enzima aromatase e está associado a alterações anatômicas, neurológicas e comportamentais”, relatou o coautor do estudo e bioquímico Dr. Wah Chin Boon.
A pesquisa da equipe, publicada na revista Nature Communications, adotou duas abordagens de pesquisa distintas para chegar a essas descobertas. “Isso parece ser parte do quebra-cabeça do autismo”, disse a Dra. Ponsonby.
Nas avaliações, extraídas da escala de Problemas do Espectro do Autismo da Lista de Verificação de Comportamento Infantil (CBCL ASP), foram ponderadas para cancelar quaisquer predisposições genéticas ou outras variáveis para isolar o papel que o BPA desempenha durante a gravidez.
O resultado dessa análise ponderada foi que meninos com “baixa atividade da aromatase” tinham 3,56 vezes mais probabilidade de apresentar sinais de autismo aos dois anos de idade.
Isso continuou à medida que os meninos cresciam, onde eles observaram: “Aos dois anos de idade previu fortemente o autismo diagnosticado aos quatro anos e moderadamente aos nove anos de idade.”
A conexão com um diagnóstico de autismo foi verdadeira para 92% das crianças de quatro anos e 70% das de nove anos, descobriu o estudo.
Poderiam existir tratamentos para ajudar a combater isso?
Mas a equipe também conduziu testes em ratos de laboratório em um esforço para entender como o BPA prejudica essa atividade crítica da aromatase e quais tratamentos podem ajudar a combatê-la.
Durante esses testes, a equipe experimentou a adição de um tipo de ácido graxo chamado 10-hidroxi-2-decenoico (10HDA), que eles descobriram que poderia ajudar a mitigar o impacto negativo que o BPA exerce no sistema de aromatase do cérebro em desenvolvimento.
O 10HDA, um importante ingrediente lipídico graxo encontrado naturalmente na geleia real das abelhas, compete dentro do cérebro com o BPA, impedindo que o composto prejudicial se ligue aos receptores de estrogênio.
Em seus estudos com camundongos, a adição de 10HDA aos camundongos machos expostos ao BPA melhorou sua capacidade de socializar com outros camundongos. “Isso justifica estudos adicionais para verificar se esse tratamento potencial pode ser realizado em humanos”, disse o Dr. Boon.
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