Eu nunca gostei muito de matemática. Minha paixão sempre foi tudo aquilo que envolvesse palavras. Mas desde muito cedo entendi o significado da palavra dupla: são dois em uma parceria, duas pessoas se ajudando com um mesmo objetivo e, muitas vezes, se complementando. Na sala de aula, quando crianças, sempre nos deparávamos com um engraçadinho que perguntava ao professor quando o exercício era em dupla: “Dupla de dois???”, outro mais engraçadinho respondia: “Não, dupla de quatro, burro!”.
Pois então, isso me fez lembrar uma situação que vivi recentemente… Eu não sei bem o momento em que aquele cara me conquistou. Nós morávamos em cidades diferentes e, pra ser sincera, nem me senti atraída por ele nos primeiros contatos, mas ele era tão atencioso, focado, determinado e parecia ser um menino tão família que dei uma brecha pra nos conhecermos. Meu interesse foi surgindo quando eu percebi algo: ele demonstrava ter muito, mas muito interesse em mim. Mas talvez o momento em que me entreguei e que, consequentemente, me ferrei tenha sido quando ele sugeriu que eu me mudasse para a cidade dele. Eu ainda contra-argumentei: “Primeiro tenho que conseguir um emprego aí, não posso simplesmente ir do nada”. E então ele me disse a frase da qual nunca me esquecerei: “Linda, não se preocupe com isso, você vai morar comigo, nós seremos uma dupla de dois.” Sei que ele falou “dupla de dois” propositalmente mas eu achei super bonitinho isso: o cara se esforçar por mim, se esforçar para que eu dividisse uma vida com ele.
Claro que achei um pouco precipitado ele dizer isso mas ele parecia estar muito envolvido, então eu me deixei levar por aqueles planos. A gente conversava sobre tudo, família, trabalho, problemas. Até que um dia ele me falou dos seus relacionamentos, o último namoro de certa forma tinha o traumatizado, a menina o esnobava enquanto ele não media esforços para agradá-la. Um dia ele decidiu colocar um ponto final naquilo: “E até hoje ela me procura mas não dou moral”. Não me preocupei porque, afinal, eles haviam terminado há mais de um ano e ele não dava moral (inocente).
Um belo final de semana ele sumiu, e era a primeira vez em semanas que ele fazia isso. Eu me segurei na sexta, no sábado, e então no domingo resolvi arriscar: “Percebi que você se afastou, se quiser conversar…”. Eu praticamente lhe disse: “Me dê um fora mas não me deixe sem saber o que está acontecendo”. E ele deu; “Oi, minha ex quis voltar e resolvemos tentar…”.
Eu não fazia a mínima ideia de quem era essa ex. Mas mulher é mulher em qualquer lugar do planeta, sendo assim, eu resolvi stalkear. Não demorou muito para eu descobrir. Recentemente, ele havia adicionado uma menina no Facebook e no Instagram. A menina havia feito um comentário em uma foto dele (o comentário foi: “…”). Até aí tudo bem, mas o comentário dela (que se resumia em três pontinhos apenas) tinha quatro curtidas, QUATRO! Aí tinha. Pesquisando mais um pouco eu percebi que 110 semanas atrás ele tinha postado uma foto com essa mesma menina no Instagram. A foto estava lá embaixo e quase passou despercebida… Então constatei que ela era alguém do passado com quem ele estava retomando contato. Pronto, eu havia descoberto quem era a menina que virou a cabeça dele mesmo após um ano separados. E a notícia ruim: ela era uma morena linda, ou melhor, lindíssima. Então, na verdade, eu vi que nós dois não éramos uma dupla de dois…Desafiando a matemática, na realidade éramos uma dupla de três! Enfim, eu tinha agora que desencanar.
À noite, veio-me um pensamento: “Poxa, pela história que ele contou, essa menina parecia não merecê-lo e ele parecia ser simplesmente o cara mais legal que eu havia conhecido nos últimos anos… Eu ia mesmo deixá-lo sair assim da minha vida?” Eu nunca havia lutado por ninguém, nunca demonstrava meus sentimentos mas ele era diferente de todos os outros. Então, como aspirante à escritora que sou eu lhe escrevi meus sentimentos, palavras confessas de forma completamente desnuda. Eu estava lutando por ele…”E, para finalizar, saiba que eu te admiro por tudo que você é e eu te quero muito, muito, bem.”. Acredito que ele tenha ficado um tanto surpreso e até balançado com tudo que lhe escrevi. Me respondeu no mesmo dia um texto extenso, profundo e muito atencioso. “(…) a distância entre nós dificultou tudo. Mas o mundo dá tantas voltas, quem sabe um dia ainda não haja uma oportunidade pra nós dois.”. E a oportunidade veio 14 dias depois: “O namoro não durou uma semana porque voltou pior do que já era. Não consigo parar de pensar em você. Como é que faz?”
Resolvi dar uma chance. Ele estava sendo sincero. Pelo menos era o que eu achava. O problema é que nessa época ele estava de mudança para um outro lugar e ficaríamos ainda mais distantes… Mesmo assim, a gente mantinha um contato diário. Todos os dias às 6 e 15 da manhã ele me mandava bom dia. E a gente só parava de se falar antes de dormir.
Um belo dia percebi que ele tinha desativado o Facebook dele. Achei normal, eu fazia isso às vezes. Mas depois acabei percebendo que ele não havia deletado o seu Facebook não, ele na verdade tinha era me bloqueado. O que foi no mínimo estranho pois ele continuava conversando comigo o tempo todo e agora ainda queria me mandar a passagem para eu ir visitá-lo na cidade em que ele estava.
Fiquei em choque, mas resolvi colocar a situação às claras. Perguntei o porquê de ele ter me bloqueado. Mas ele bateu o pé dizendo que tinha deletado o perfil.
Eu vi que ele não ia assumir. Na verdade, muito acuado, ele nem fez questão de se explicar. Pedi que não me procurasse mais e foi exatamente isso que ele fez. Eu, óbvio, também nunca mais o procurei.
Mas não posso dizer que não sofri com isso. Sofri pela falta de explicações, por não saber o que tinha acontecido. “Talvez você nunca saiba o que houve”, disse uma amiga um dia. Realmente, era difícil eu saber. Ele e eu não tínhamos amigos em comum e estávamos a quilômetros de distância. Mas essa mesma amiga já tinha me dito há uns anos, em uma outra ocasião, que a verdade sempre aparece. E não sei porque eu senti que um dia a verdade acabaria se revelando.
Em buscas de respostas, eu continuava stalkeando a menina lá, a ex dele. E descobri que eles haviam deixado de se seguir no Instagram. Eu descobri pelo perfil dela, porque eu não o seguia e o perfil dele era trancado. Mas o fato de eles não se seguirem mais não me dizia muita coisa e a falta de respostas acabou fazendo com que eu fosse deixando isso pra lá…
Em uma bela segunda-feira, dois meses depois do nosso último contato, foi revelado um dos maiores mistérios que já rondaram minha vida. Estava eu deitada em minha cama quando me veio o pensamento: “Poxa, eu podia olhar o Instagram do fulano… Sei que é trancado mas… quem sabe?”.
Eu não sei descrever o que senti quando os meus olhos viram o perfil dele… Várias fotos acompanhado por uma loira. Fui no perfil da loira e a primeira foto deles no perfil dela datava de exatas dezesseis semanas atrás. Dezesseis semanas (ou quatro meses) atrás vivíamos o nosso auge (com ele me falando para morarmos juntos)! O pior não eram as fotos, o pior eram as declarações… E eu que pensei que ele estava namorando a morena (provavelmente não era namoro e sim um rolo), agora vi que na verdade ele sempre, sempre, estivera era com uma loira. Não éramos uma dupla de três, na verdade a matemática nunca havia sido tão desafiada e humilhada e nós formamos, ao que tudo indica, uma dupla de quatro! (E talvez até tenha sido por isso que a menina morena e ele deixaram de se seguir)…
Por fim, constatei que eu não havia sido enganada quando ele havia me bloqueado. Na realidade, eu estava sendo enganada desde o momento em que ele apareceu em minha vida. Aquele cara era um grande mentiroso!
Eu poderia dizer que sou uma azarada, que fui iludida, que foi uma baita sacanagem. Mas eu não vejo por esse lado e disso tudo sei que me ficaram grandes lições:
1. Aprendi a demonstrar mais os meus sentimentos.
Na primeira vez em que ele se afastou eu engoli o meu orgulho, lhe mandei um e-mail e fiz questão de expor o que eu sentia. O final dessa história poderia me fazer pensar que não valeu a pena. Mas valeu sim, e muito. Pela primeira vez eu deixei um cara saber abertamente que eu estava completamente na dele. Isso por si só foi um desafio que eu venci, uma barreira superada. Ponto pra mim!
2. Demonstrar abertamente meus sentimentos me deixou também com a sensação de isenção de culpa.
A gente não deu certo não foi porque eu fui fria, medrosa e durona. A gente não deu certo foi porque ele foi um babaca mesmo. E assim, livre, eu parto para a próxima com o coração em paz.
3. Aprendi que sempre vamos nos esbarrar com pessoas que não nos merecem e que irão nos machucar de alguma forma.
Nesse caso, é preciso fazer duas coisas: primeiro, deixar que a vida te mostre quem é aquela pessoa (sim, a vida sempre mostra, esta é uma Lei implacável). E quando a vida te mostrar você terá uma coisa a fazer: deixe aquela pessoa ir. Não a culpe, não se prenda a ela. Talvez um dia ela se arrependa, talvez não. Talvez um dia ela pague o que fez com você, talvez não. Talvez essa pessoa já até esteja pagando (eu, sinceramente, acho que um cara que envolve duas ou mais mulheres ao mesmo tempo em meio a mentiras obviamente não é dos mais felizes ou bem resolvidos). O importante não é a pessoa, é você, é a sua vida e o que você pode fazer para se fazer feliz.
4. Eu não me culpei em nenhum momento por ter acreditado nele e ter dado o melhor de mim.
Não se culpe também. Por favor, não se culpe por ter se entregado tanto e ter sido tão verdadeira. Não o culpe por ele ter atuado tanto e ter sido tão egoísta. Não encare isso como um atestado de condição de sofrimento. Encare isso como fatos: fatos que mostram que vocês dois são bem diferentes.
5. Ás vezes, nós mulheres, temos a mania de olhar para os relacionamentos alheios e nos achar azaradas no amor.
Mas pense: se você se decepcionou é porque você acabou descobrindo a verdade em relação a algo. Como disse Chico Xavier: “A desilusão é a visita da verdade”. Eu, por exemplo, poderia estar agora ainda iludida, achando que duplas sempre são formadas por duas pessoas, mas descobri que, às vezes. elas são formadas por até quatro, rsrs. Acho que mais azarado é quem está lá naquele relacionamento, acreditando que o cara realmente vale a pena.
6. Por fim, já dizia o autor: Sempre há outras pessoas, outras possibilidades.”
Permita-se escrever uma nova história. E escreva-a de coração aberto. Não traga medos e traumas do passado para uma nova história. Traga somente aprendizados. Cada história de amor deve ser iniciada sem pesos, caso contrário é muito provável que não dê certo.
Vou dizer que não tenho medo quando conheço um novo alguém? Não, eu sou humana e tenho medo pra caramba! Mas eu vou de verdade. Eu coloco as minhas fichas, eu coloco o meu coração. Se não der certo, eu já aprendi que o coração talvez seja o órgão que se regenere mais rápido. E, mesmo que eu me machuque, eu sei que o alívio um dia virá. Assim, não evito que um dia eu vá sofrer de novo mas sei que aumento a probabilidade de felicidade.
Acima de tudo, lembre-se: a vida não é feita de certezas e sim, de tentativas. E quem não tenta, está minimizando as suas chances de ser feliz! Então não pense em outra alternativa que não seja: TENTAR! Tente!
Por: Nat Medeiros – Super Ela