Tu sabes, sentes dentro de ti. Sabes que ou dás a volta agora ou saíres do fundo do poço vai ser a coisa mais horrorosa que vais sentir em toda a tua vida, porque nunca tiveste tão fundo.
O despertador toca no máximo volume, abres os olhos o mais rápido que consegues, mas o teu corpo dormente não te acompanha porque não são permitidos movimentos rápidos. Percorres mentalmente a tua lista de tarefas para o dia e nada te faz querer verdadeiramente sair da cama, nem a fome que nesse momento te cria um buraco no estômago.
Com a cabeça vazia de pensamentos, braços arrepiados de desespero e lágrimas nos olhos fazes o teu dia o melhor que consegues.
O sorriso fácil no rosto evita as perguntas de cortesia e evita também teres que dar uma resposta sobre a tua vida, que ninguém no fundo está interessado em ouvir. As pessoas habituaram-se a desejar um bom dia acompanhado de “Está tudo bem?”, mas nem sequer esperam pela resposta. Atualmente sabes falar três línguas diferentes, mas não sabes desejar um bom dia com sentimento.
Vais adiando as tarefas importantes, ajeitando a tua secretária para que ela pelo menos pareça viva, não te atreves a discordar de nada porque isso implicaria teres que encontrar argumentos – que embora os aches válidos – compreendes que seriam uma perda de tempo e da escassa energia que te sobra e, ainda tens que voltar para casa. Desesperas por tudo, pelas coisas mais simples, pela pena que trazes em ti por não conseguires acabar o livro que está ao lado da tua cama há meses, porque o trânsito hoje está péssimo e nos semáforos só te chegam os vermelhos, tudo se tem tornado um pesado fardo.
Mas hoje basta!
Hoje há um grito mudo em mim que traz a vontade de mudança, traz a consciência de que me permiti viver nas águas paradas no fundo de um poço realmente negro onde não se sente nada, onde não se sente amor, tristeza, frio ou alegria, apenas vazio. Um vazio que te faz sentir morto.
E porque a vida sempre encontra uma maneira de me mostrar o caminho, talvez aqui, no fundo do meu poço exista um trampolim.
Por: Tatiana Camacho
Imagem de capa: Jonathan Borba no Pexels