A atriz renomada brasileira, Denise Fraga, sempre recorre a clássicos, música e poesia para enriquecer diversos aspectos de sua vida. E é exatamente essa característica que possui o monólogo “Eu de Você”, uma obra teatral concebida e desenvolvida por ela, sob a direção de seu esposo, Luiz Villaça.
Em entrevista à repórter Marcela Paes, do Estadão, a atriz e dramaturga compartilha seus pensamentos sobre a necessidade de um contato mais profundo com a cultura para uma vida melhor, refletindo sobre a experiência acumulada nos palcos ao longo dos anos. Ela observa uma redução na capacidade do público em perceber ironia e metáfora durante suas apresentações teatrais.
Denise Fraga ressalta, “Acredito que estamos testemunhando um empobrecimento intelectual, subjetivo e poético, algo decorrente da velocidade que a vida virtual nos impôs. Essa velocidade absurda, quase desumana, foi injetada em nosso cotidiano. Somos obrigados a cumprir tarefas praticamente impossíveis de realizar. Isso tem contribuído para um cenário de crises de ansiedade.
Curiosamente, o Brasil subiu no ranking global da ansiedade. Um posto surpreendente para um país que costumava ser reconhecido por sua adaptabilidade. O tempo é um luxo escasso. Até um simples texto na internet é visto como um ‘textão’. As pessoas hesitam em se engajar em esforços intelectuais e poéticos diante de um cenário tão diversificado e disperso.”
“Tenho estado em turnê teatral desde 2006. A maioria das minhas peças não é exatamente cômica, mas elas evocam risos e emoções. Sinto que o humor recebe uma resposta sonora da plateia. O riso não é homogêneo; ele é variado, rico em nuances. Ao longo dos anos, percebo que houve uma diminuição na capacidade do público em compreender a ironia e as metáforas. Parece que o código poético foi corroído e esvaziado. Uma piada mais sutil talvez seja entendida somente por 20% da audiência.”
“Eis a necessidade de um exercício contrário: voltar à leitura, à escuta. O teatro, talvez, se torne ainda mais valioso, pois proporciona uma imersão na qual você permanece ali, inicialmente sem consultar o celular. É um mergulho em uma sala escura, uma experiência coletiva em que o riso do próximo pode alterar o seu, onde o suspiro de alguém ao seu lado pode lhe dar a coragem de chorar. Essa experiência coletiva de assistir juntos é o verdadeiro compartilhar.
É curioso como o verbo ‘compartilhar’, que usamos com frequência, acaba sendo mal interpretado. Compartilhar um vídeo não é o mesmo que compartilhar uma experiência. Você não está vendo junto, a pessoa assiste quando quer… Compartilhar significa compartilhar.”, acrescentou a atriz.
Imagem de Capa: Denise Fraga
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