Quando decidi te esquecer listei incansavelmente os motivos que me fizeram recuar. Se eu me distraísse, ainda que por um segundo, meu pensamento ia de encontro a ti na esperança de me convencer a tentar de novo. Eu evitei encarar janelas, músicas melancólicas, noites de domingo, viagens longas de carro. Eu, que nunca fui muito de rezar, implorei a qualquer entidade do universo que afastasse minha vida da sua. Eu, que nunca temi a solidão, me forcei a sair, conversar, beber todas e estar rodeada de gente pra não sentir tua ausência tão forte quanto um soco no estômago me impedindo de dormir. Eu te amei demais, sei disso. Mais do que você merecia, mais do que eu podia entender, mais do que já me permiti amar qualquer outro antes de você. Havia algo de muito errado nisso que eu nunca havia percebido.
Primeiramente, eu pensei que não signifiquei nada pra você. Depois percebi que seguir em frente é o fluxo natural da vida e não que diminui a importância do que fomos um para o outro. Eu é que me mantive distante, eu é que me mantive sem me envolver. Porque eu quis. Porque ninguém me valeu tanto a pena quanto você. Porque eu, de certa forma, me sinto uma viúva que deve respeito a um romance que nunca existiu.
“Aliás, a coisa que eu mais faço é pedir socorro.”
Eu sofri um mês inteiro por você, te juro. Eu chorei, e muito. Como nunca havia chorado por ninguém. Perdi peso, algumas baladas e muitas oportunidades. Eu só queria você. E te querer desse jeito – tão infantil quanto intenso – me afastava da verdade. No segundo mês, me permiti. Só um pouquinho, nada demais. Eu queria tentar, é sério. Mas tudo me lembrava de você. Eu te comparava a cada esquina (mas era injusto, eu sequer avaliava a quem estava comparando), eu só queria justificar a mim que você era o melhor, que valia a pena insistir. Ninguém era páreo tamanho era a admiração que eu nutria cegamente por ti.
Então, suas palavras ficavam ecoando em minha mente durante dias, porque eu me importo. Eu lembro de dias especiais, eu me interesso pela rotina por mais repetitiva que seja, eu ligo no aniversário dos pais, eu vou aos natais em família. Mas eu também coloco o número na discagem rápida e peço socorro. Aliás, a coisa que eu mais faço é pedir socorro. Eu devia ter te avisado antes, talvez. Se tivéssemos nos afastado no início seria isso e pronto. Eu não teria te dado tanto importância, mas é claro que eu “folclorizei” a nossa relação e insisti quando devia ter recuado.
Nunca duvidei do seu sentimento por mim, veja bem. O que me fazia questionar se valia a pena era o quanto eu amava a mim, não você. Todo grande amor pode ser esquecido, exceto o próprio. E hoje eu quero esquecer você, de verdade. E sei que isso vai me deixar um vazio imenso, sei que por um tempo vou desacreditar no amor, nas pessoas, na boa fé. Sobretudo, sei o quanto dói drenar um coração que transborda por alguém. Mas não faz sentido eu complicar minha vida desse jeito quando sei que mereço outra pessoa, e não outra chance contigo. Eu quero esquecer você, juro.
Mas toda vez que você reaparece eu esqueço que é possível viver sem ti.
Eu tentei me distanciar de ti várias vezes, confesso, mas porque eu gostava de você. Porque já doeu bastante fingir que nada tinha acontecido entre a gente. Até que desisti. Eu, definitivamente, te amei demais, sei disso. Você fez toda minha vida amorosa soar como uma piada de mau gosto. Mas além disso, você também se fez presente quando eu quis me acostumar com sua ausência. E eu já tive muito medo que se esquecesse o quanto fui importante pra ti. Mas, hoje, tudo bem se você estiver em outra fase. Acho que, talvez, não conseguiríamos manter esse nível relação em que nos importamos a ponto de não nos afastarmos, mas não o suficiente pra estarmos juntos, porque, por mais que doa admitir, não é saudável. Talvez a gente já tenha tentado demais. Talvez tenha acabado. Não tem sentido em a alimentar o presente com as lembranças do passado. Amor bom é aquele que nos dá sossego, e não tira a nossa paz.
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