Eu não quero passar em branco na vida dos meus alunos.” Quem disse essa frase foi a Sirlei, colega do curso de Educação Musical da Unesp, onde estudei na época em que o campus ainda era no Ipiranga, no apertado ex-convento rosa-glacê. Essa frase dela me marcou. Às vezes a gente fala e acha que aquilo se perdeu no Universo, mas não. Pode ter ficado em alguém.
Também se imprimiu em mim uma conversa que tive com o Piter caminhando pela Alameda, em Mendoza, na Argentina. As árvores foram testemunhas das perguntas que ele me fez: “Pelo quê você quer ser conhecido? Qual a sua espinha dorsal?”.
Eu era um intercambista que, milagrosamente, tinha recebido uma bolsa da Unesp para estudar música com los hermanos. E ainda não sabia bem qual legado queria deixar no mundo.
Anos depois as árvores reapareceram. A Naara orava por mim no começo do ano passado e pedia a Deus que eu conseguisse me ver como a árvore que eu realmente era: frondosa, grande, frutífera. Na hora não fez sentido, ou eu é que ainda não sentia que me faltava rumo na vida. Não falo de tarefas, projetos (detesto essa palavra!) ou atividades. Eu era carente de me encontrar no meu caminho.
Apropriação de mim. Protagonismo. Auto-empoderamento (estou criando uma nova palavra?).
Se não quero passar em branco na vida das pessoas, se quero deixar um legado e ser conhecido por ele, se quero ser uma árvore que produz e alimenta e dá sombra e é referência, me esbarro numa questão que me esmurra: acredito no que sou? Eu me auto-boicoto? Fujo de mim?
Tenho 32 anos. Já vivi muitas coisas. Não todas, mas muitas. Estive em 11 países, conheci culturas, ouvi histórias, li pessoas de perto e de longe, dormi e sonhei em hotéis arrumados e chãos empoeirados. Eu tenho algo útil pra exteriorizar. Acho que carrego algum sabor e textura nos meus galhos.
Minha vocação não é escrever, nem falar, nem cantar. A Voz que me chamou me disse pra ajudar as pessoas a desenvolver o potencial que lhes foi dado, comunicando verdade e beleza. A Voz é Deus.
Quero fazer você pensar. Te chamar a atenção pra o que você não viu. Quero te tirar da rotina e ser um trampolim. Quero te ajudar a desenvolver o mundo.
Acontece que pensamentos bons trazem novas perguntas. E me questiono: como fazer tudo isso quando se é multi? Trago tal habilidade pro centro do palco e transformo as demais em coadjuvantes? Me falta foco?
São perguntas demais para um só artigo. O bom é que sou agraciador por ter Sirleis, Piters e Naaras pra me ajudarem a caminhar nessa louca estrada que é ser humano.
Por: André Nascimento
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