A pior coisa da depressão é que ela é uma disfunção afetiva, psíquica que acontece dentro da gente. Por isso, muitas vezes, ninguém consegue vê-la e muito menos ajudar. Não é um osso quebrado que vemos no raio x ou um corte que a enfermeira costura e logo cicatriza. Depressão é um rasgo na alma que ninguém tem acesso. É uma ferida aberta e inflamada na nossa alegria de viver que ninguém pode desinfetar porque não há como alcançá-la fisicamente.
Quando nos afogamos no mar, buscamos a superfície incessantemente no desespero pelo ar. Na depressão é o contrário.
Afogamo-nos na dor e quando tentamos buscar ar no lado de fora, podemos sufocar ainda mais, porque é mergulhando dentro da gente que conseguimos respirar melhor. Por isso, não entendemos porque as pessoas nos julgam tanto. Porque ninguém nos ajuda, enquanto a angústia esmaga nosso peito e tira todo nosso fôlego nos deixando jogados na cama. Então, a gente escuta que estamos nos fazendo de vítima. Que é bobagem, frescura. As pessoas nos ignoram justamente no momento em que mais precisamos, nos deixando, sem se darem conta, a beira de um precipício, porque a nossa depressão pode ser imperceptível aos olhos do coração de quem não sabe o que é passar por essa dolorosa experiência.
Então, a gente senta vergonha do nosso estado. Já nos achamos inúteis, os julgamentos só nos pioram mais. Por isso, nos questionamos se esse afogamento na dor é real, se faz sentido. Se não é pura frescura de quem quer atenção. E como a depressão é uma doença e não uma birra infantil, a gente disfarça porque não quer parecer tolo, mimado ou dramático. Fingimos nadar enquanto nos afogamos. Sorrimos mesmo quando fica impossível respirar.
Escondemos o desespero porque dói menos fingir e enganar as pessoas do que mostrar toda nossa dor e não ser compreendido, pior, ser julgado.
E tudo que precisamos é de apenas alguém para segurar em nossa mão, enquanto buscamos a linha e a agulha para costurar essa ferida da alma. Porque, sim, a depressão é um salto do fundo do poço que só nós somos capazes de dar. São as nossas pernas que nos impulsionam não a dos outros. Podemos estar cercado de amigos, procurar uma terapia, seja com um profissional seja com uma atividade, opções que são um suporte e amenizam a angústia, que são máscaras de oxigênio diante desse afogamento na dor, mas somente nós mesmos podemos decidir buscar o ar lá no fundo e respirar para sair dessa.
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As pessoas podem nos falar as melhores coisas, estender o braço para nos puxar dessa lama da alma, mas se a gente não levantar a mão e segurar firme, permaneceremos imersos em um mundo escuro, onde ninguém nos vê, de uma doença que é o mal do mundo e que somente a coragem de quem a tem é capaz de salvar.
Por isso, peça ajuda, sim, sem vergonha de estar deprimido. E o mais importante, aceite orientação, pois, no fim das contas, somos nossos próprios salva-vidas na depressão. Somos o motorista do nosso caminhão de dor. Então, quando alguém lhe julgar, não desanime, apenas lembre-se de que: as trilhas mais difíceis nos levam aos melhore destinos. E se no meio do caminho o tempo virar, em vez de esperar a tempestade passar, dance na chuva!
Por: Luciano Cazz