Quando um rapaz perde a mulher da sua vida, há coisas que não se dizem mas que se sentem, no silêncio das palavras.
Ela se foi, foi num sopro de uma noite de verão, foi sem que eu pudesse impedir, sem a conseguir deter, perdi a pessoa que mais amava naquela noite, naquele momento em que fiquei imóvel, em que nem um som saiu dos meus finos lábios.
Ela se foi, foi desaparecendo na linha do horizonte, foi indo e indo cada vez mais longe, mais distante de mim até que eu nunca mais a vi, só nos sonhos, só nas memórias que vivem em mim, que me cercam o corpo, a minha vida e o meu coração.
“(…) mal ela sabe que eu a amava mais que tudo neste mundo (…)”
E ela deve pensar que eu nunca mais a quero ver, que eu não lutei por ela que não a mereço, que não a amava, mal ela sabe que eu a amava mais que tudo neste mundo, que eu sabia o que os olhos dela revelavam, mesmo ela não sabendo que eles eram tão transparentes, que eu a observava quando ela dormia, sentindo-me um sortudo por a ter ali, ao meu lado, que eu a conseguia proteger, que eu tinha de proteger de tudo, que ela era o bem mais precioso, mais que a própria vida mais que o próprio sonho, ela era o propósito da minha vida, e o sentido do meu sonho” o sonho comanda a vida” e ela, bem ela, comandava a minha.
Que ela dormia e eu suspirava fundo por a ter ali, suspirava por ser um sortudo, o mais sortudo, sorte essa que acabou por eu nunca lhe ter dito o que sentia, nunca ter dito que a amava, mais que vida, mais que o sonho. Que a amava desde que a vi pela primeira vez, que o sorriso dela nunca mais saiu da minha cabeça, e quando vejo os olhos só me vem a imagem dela a sorrir, com aquele olhar de ternura e puro, sem qualquer dor que eu mais tarde lhe fui causar, estraguei o sorriso dela, o olhar dela deixou de ser brilhante constante e presente, passou para um estado de ausência, que eu causei em todos os momentos que a meti a porta do meu coração, que eu a separei dele, mesmo sendo a única pelo qual o meu coração bate.
“(…) nunca lhe disse que era só ela e apenas ela que eu imaginava de branco num altar (…)”
Ela nunca soube que a amava, que a amava até o coração doer, até as lágrimas caírem, até não ter forças para suportar tal amor, ela nunca soube, porque eu nunca lhe disse, nunca lhe disse que era só ela e apenas ela que eu imaginava de branco num altar, que era só ela e apenas ela que eu imaginava a envelhecer ao meu lado, sem perder aquela beleza absoluta, aquele brilho no olhar, aquele esplêndido sorriso.
Tenho saudades dela, da sua teimosia, da sua indecisão, da sua necessidade de estar comigo, de contar comigo, de se apoiar em mim, de ser o seu confidente, de a ouvir a fazer planos para o futuro, de a ouvir a cantar no duche ou no carro, de a ouvir a refilar, de ouvir o riso dela quando lhe fazia cócegas, de ver como ela ficava feliz e animada, tive o prazer de ter a pessoa perfeita ao meu lado, mas não a estimei, não como ela merecia, sei que errei, sei que devia de a ter apoiado, de ter me interessado, envolvido na vida dela como ela fez com a minha, devia ter me preocupado mais, querer saber mais, interessar-me mais e ter me dado mais.
“(…) cheio de amor, e incapaz de o mostrar fui guardando em mim todo o amor no mundo (…)”
Via que ela tentava vir ter comigo, falar comigo e eu a ignorava, lembro-me de ela avisar que tínhamos de nos endireitar, que estávamos perdidos e que juntos conseguíamos, e eu ignorei todos os avisos, todos os presságios, ignorei a ela, ignorei todas as suas chamadas de atenção não para ela mas para a nossa relação, ela bem me alertou que as coisas não estavam bem, que eu precisava de agir, mas eu fiquei e fui ficando longe e distante, cada vez mais ausente cada vez mais impotente, e ela foi indo, foi se afastando aos poucos e poucos já não havia mais nada para salvar, não havia mais nada para arder, não havia mais amor nela, e eu cheio de amor, e incapaz de o mostrar fui guardando em mim todo o amor no mundo, todo o amor que sentia por ela e ela nunca soube.
“(…) sei que ela acha que eu nunca amei que foi mais uma, mais uma apenas, mas ela foi apenas a uma na minha vida.”
Sei que ela fez o mais correto, sei que ela pensava que eu não amava, sei que ela não merecia alguém como eu, alguém que não a sabia amar, para amar não basta saber, é preciso mostrar, é preciso que ela saber que a amava, como a amava, que a amava de forma única, que a amava de forma intensa, que a amava para sempre, para todo o sempre. Sei que a perdi, sei que me vou sempre arrepender de não ter corrido atrás dela, de não ter mostrado quando sabia que ela precisava de o ver, sei que fui um parvo, sei que ela acha que algo está errado com ela por me ter amado, me ter dado tudo sem receber nada, ter investido tudo e tudo perdeu, sei que ela acha que eu nunca amei que foi mais uma, mais uma apenas, mas ela foi apenas a uma na minha vida.
Agora vives nos meus sonhos, não tenho coragem de ir atrás de ti, não te mereço, nunca mereci, nunca mereci todo o teu amor, toda a tua força e coragem, nunca fui capaz de te agradecer tudo o que fizeste, tudo o que cresci contigo, por seres quem és, por seres tu, por seres capaz de mudar o mundo como mudas-te o meu, gostava de poder ir ter contigo olhar-te nos olhos ver que ainda me amavas e dizer “amo-te mais do que posso mostrar, mais do que possas sentir, amo-te como nunca amei, nem vou ser capaz de amar, amo-te a ti e só a ti, amo-te mais que qualquer pessoa te vai conseguir amar, amo-te mais do que este corpo consegue suportar, amo-te ontem, hoje e em todos os dias da minha vida, eu amo-te mais do que posso mostrar”.
“(…) desculpa se eu nunca te disse o que merecias ouvir (…)”
Desculpa se um dia eu te deixei partir no silêncio, na escuridão, no sopro da noite, desculpa se eu nunca te disse o que merecias ouvir e eu não fui quem merecias ter, vives em mim desde o primeiro dia,desde esse eterno dia…
Por: Daniela Lopes