Pesquisadores identificaram um homem com uma rara mutação genética que o protegeu de desenvolver demência em uma idade precoce. A descoberta, publicada em 15 de maio na revista Nature Medicine, poderia ajudar os pesquisadores a compreender melhor as causas da doença de Alzheimer e, potencialmente, levar a novos tratamentos.
Por quase 40 anos, o neurologista Francisco Lopera, da Universidade de Antioquia em Medellín, na Colômbia, vem acompanhando uma família extensa cujos membros desenvolvem Alzheimer em seus quarenta anos ou até mais cedo. Muitos dos aproximadamente 6.000 membros da família carregam uma variante genética chamada mutação paisa que inevitavelmente leva à demência de início precoce. Mas agora, Lopera e seus colaboradores identificaram um membro da família com uma segunda mutação genética – uma que o protegeu da demência até os 67 anos.
“Ao ler esse artigo, meus pelos dos braços ficaram em pé”, diz a neurocientista Catherine Kaczorowski, da Universidade de Michigan em Ann Arbor. “É apenas uma nova via tão importante para buscar novas terapias para a doença de Alzheimer”.
Lopera e seus colegas analisaram os genomas e históricos médicos de 1.200 colombianos com a mutação paisa, que causa demência por volta dos 45-50 anos. Eles identificaram o homem com a segunda mutação quando ele tinha 67 anos e apresentava apenas comprometimento cognitivo leve.
Quando os pesquisadores examinaram seu cérebro, encontraram altos níveis de complexos proteicos pegajosos conhecidos como placas de amiloide, que se acredita matarem os neurônios e causarem demência, além de uma proteína chamada tau que se acumula à medida que a doença progride. O cérebro parecia o de uma pessoa com demência grave, diz o coautor do estudo, Joseph Arboleda, oftalmologista da Escola de Medicina de Harvard em Boston, Massachusetts. Mas uma pequena área do cérebro chamada córtex entorrinal, que coordena habilidades como memória e navegação, apresentava baixos níveis de tau.
Os pesquisadores descobriram que o homem tinha uma mutação em um gene que codifica uma proteína chamada reelin, associada a distúrbios cerebrais, incluindo esquizofrenia e autismo. Pouco se sabe sobre o papel da reelin no Alzheimer, então os pesquisadores criaram geneticamente camundongos com a mesma mutação. Nos camundongos, a forma mutada da reelin fez com que a proteína tau fosse modificada quimicamente, limitando sua capacidade de se agrupar ao redor dos neurônios.
O estudo desafia a teoria de que a doença de Alzheimer é impulsionada principalmente pelas placas de amiloide, que são alvos de vários medicamentos recentemente aprovados pela Food and Drug Administration dos Estados Unidos. Os medicamentos removem efetivamente a amiloide do cérebro, mas levam apenas a uma melhora moderada nas taxas de declínio cognitivo.
O fato de o homem com a mutação genética protegida da demência apresentar altos níveis de placas de amiloide, mas baixos níveis de tau no córtex entorrinal, sugere que a proteína tau desempenha um papel mais crucial na progressão da doença de Alzheimer do que se pensava anteriormente. Isso levanta a possibilidade de que direcionar a proteína tau, em vez das placas de amiloide, possa ser uma abordagem mais eficaz no desenvolvimento de tratamentos para a doença.
Essa descoberta também destaca a importância de estudar famílias com casos raros de proteção contra a demência, pois isso pode fornecer informações valiosas sobre os mecanismos subjacentes à doença de Alzheimer. Compreender as variantes genéticas e as vias de proteção pode levar a novas abordagens terapêuticas e ajudar a desenvolver tratamentos mais eficazes.
No entanto, é importante ressaltar que essa descoberta é baseada em um caso isolado e que mais pesquisas são necessárias para confirmar e explorar as implicações desses achados. A doença de Alzheimer é uma condição complexa e multifacetada, e ainda há muito a ser aprendido sobre suas causas e tratamentos.
Por fim, não relacionado com o estudo, mas relacionado com a doença de Alzheimer, lembramos aqui de um filme maravilhoso que vos queremos sugerir, chamado O Pai.