A menopausa é “tipo uma TPM”; só que, em vez de durar alguns dias, dura anos seguidos e é mais perturbadora, intensa e cheia de elementos desconhecidos. Embora seja um dos inúmeros ciclos a compor a vida das mulheres, falar sobre a menopausa ainda é um tabu. Dona de muitos outros rótulos de comportamento, a sociedade também rotula a mulher madura segundo alguns critérios pouco amigáveis e muito preconceituosos.
A mídia, timidamente vem tentando chamar a atenção para o fato de que as mulheres com mais de 50 podem, sim, gozar das delícias de estar mais à vontade consigo mesma, posto que conta com anos de convivência com sua própria pessoa; experimentar diferentes formas de amor, já que tem agora mais recursos para entender que não há padrões que valham perder oportunidades de dar e receber afeto; e, finalmente, relaxar diante da vida e fazer cada dia valer à pena, em propósito, experiência e fim.
O tempo inexorável cumpre seu papel em nossas vidas. O dia há de ter sempre a mesma duração cronológica, independentemente do que você tenha decidido fazer com as suas exatas 24 horas. Infelizmente, passamos um tempo enorme desperdiçando a vida, igual àqueles cachorrinhos que ficam correndo atrás do rabo.
A infância, cada vez mais abreviada, nos priva de reservar algum tempo diário para fazer absolutamente nada do que possa ser programado; é nessas horas de descuido que a nossa criança tem a oportunidade de lambuzar-se de vida, de lama e de chocolate.
Então, quando agendamos as horas da infância, perdemos, no mínimo, a chance de provar a liberdade. A infância é a ilha da fantasia! A adolescência, nos enche de urgências; queremos tudo, queremos muito e queremos agora! Entretanto, é essa a nossa mais cruel fase de inadequação; somos bombardeados por sensações de insegurança, ansiedade e inquietude. A adolescência é um vulcão! A juventude, cheia de seu vigor, e planos, e sonhos, e ímpetos, nos faz acreditar que viveremos para sempre, que temos o poder de manipular o tempo a nosso favor. A juventude é a montanha! A fase adulta nos coloca em cheque! Talvez seja o momento mais reflexivo de nossa vida, até então. É nesse ponto que fazemos uma parada, olhamos para trás e para frente, como o viajante que atingiu o meio do caminho.
Quando ficamos satisfeitos pelas aventuras vividas, e a experiência vem com sabor de satisfação misturada com desejo, somos acometidos por uma tênue certeza de que fizemos a vida valer à pena; e então, conseguimos olhar para frente com um frio na barriga renovado, o arrepio gostoso da expectativa que nos faz acreditar que “o melhor ainda está por vir”. A fase adulta é o oceano!
Então, se tivermos sido contemplados com uma vida longa, chegaremos à maturidade! Alcançaremos esse lugar tão forte e bonito, graças às inúmeras fantasias da infância, ao fogo da adolescência, à impetuosidade da juventude, ao prazer do conhecimento da fase adulta. A maturidade é um caldo vivo e incrivelmente interessante que se constituí da mistura única, formada por nossas únicas experiências. A maturidade é um presente, embrulhado em papel suave, intenso e delicado, tudo isso junto, assim mesmo, desse jeitinho! É com mãos habilidosas e experientes que recebemos essa nossa nova etapa da vida. É com a alma pacificada pela certeza de que não há certezas ou garantias nessa vida, que abraçamos mais essa belíssima fase, durante a qual poderemos voltar a provar as lembranças da infância, as instabilidades da adolescência, os sonhos da juventude e a reflexão da vida adulta.
Tudo estaria perfeitamente harmonizado, caso essa maturidade viesse apenas nesse viés maravilhoso e filosófico. No entanto, o fato é que não nos concedemos o direito de amadurecer em paz; de colher o fruto, agora sim, doce e pronto; de nos encontrar com a nossa melhor porção, menos ansiosa e aflita. Essa paz é perturbada por um monstrinho fisiológico que nos arrebata num encontro, cuja data marcada, nós desconhecíamos até sermos atingidas por ele.
Do ponto de vista orgânico, a menopausa é marcada pela ocorrência do último fluxo menstrual espontâneo; e marca a transição na vida da mulher, do período reprodutivo para o não reprodutivo. Quem dera fosse assim tão simples! Não é! A menopausa pode vir acompanhada de sintomas que geram angústia e desconforto. A ausência da menstruação traz consigo alguns “companheiros” com os quais a mulher precisa aprender a lidar.
De repente, a vida é invadida por ondas de calor; declínio da libido; insônia; suores noturnos; alteração da distribuição de gordura corporal; diminuição na atenção e memória; perda de massa óssea (osteoporose) e massa muscular; aumento do risco cardiovascular e depressão.
A medicina pode trazer soluções terapêuticas, por meio da reposição hormonal e utilização de repositores de vitaminas e sais minerais; além da prática da atividade física recomendável. Organicamente, é possível aliviar os sintomas e conquistar de volta o equilíbrio das funções fisiológicas. No entanto, tantas transformações podem levar algumas mulheres a desequilíbrios emocionais, cujo impacto pode trazer grandes perdas na área afetiva, profissional, pessoal e nos relacionamentos.
Toda mulher deveria ter garantidos apoio médico e psicológico para passar com mais tranquilidade pelos inúmeros desafios da menopausa. Além disso, deveria poder contar com a compreensão dos companheiros e de sua família para o fato de estarem passando por uma fase em que se sentem tão vulneráveis. À parte das enormes provocações à nossa alma e corpo físico que acompanham a maturidade, é extremamente importante lembrar que junto com as agruras da menopausa, vêm as inevitáveis e saborosas conquistas.
Mulheres maduras podem e devem apaixonar-se perdidamente, por si mesmas, por um outro alguém, por uma nova profissão, por uma atividade física divertida e desafiadora, por um talento desconhecido, por lugares nunca visitados, pelo mundo, pela vida. Mulheres maduras são donas de um encanto que só os mais sensíveis e atentos conseguirão admirar.
Elas conhecem quem são, sabem o que querem, como querem; e aprenderam que a maior beleza da história de cada um está, justamente, na liberdade de viver em constante transformação.
Por: Ana Macarini