Dizem que “o futebol move montanhas” e é verdade. Não no sentido literário – claro -, mas por todas as oportunidades que este oferece a quem não tem outra forma de ser ouvido ou visto, seja através dos famosos jogadores que aproveitam a sua notoriedade no desporto para darem voz a outros projectos tão ou mais importantes, como o caso de Messi que deu a sua imagem a uma campanha para a construção do maior hospital no combate ao câncer infantil da Europa, financiado não só pela sua fundação, como por outras organizações; ou até mesmo através dos seus adeptos, como o caso de Silvia Greco, mãe do pequeno Nikollas, um menino cego, que acabou por ganhar o prémio de melhor torcedora da temporada na FIFA, ao narrar os jogos da equipa brasileira Palmeiras ao seu filho.
A cerimónia de premiação ocorreu em Milão, na Itália, no dia 23 de Setembro de 2019, tendo Silvia concorrido ao mesmo contra a torcida holandesa da Copa do Mundo de Futebol Feminino e contra o uruguaio Justo Sánchez.
“Nós estamos aqui representando o nosso time, o Palmeiras, todos os torcedores do Brasil, todos os torcedores do mundo, todos que torcem pela pessoa com deficiência. O futebol pode transformar a vida dessas pessoas. É muito amor, muita dedicação e o simples gesto de narrar o jogo para meu filho, tivemos a oportunidade de um jornalista brasileiro, Marco Aurélio Souza [do Grupo Globo], nos ver com o coração. Nossa história rodou o mundo”, disse emocionada, após receber o prémio ao lado de Nikollas, ao mesmo tempo que lhe ia descrevendo tudo o que estava a acontecer.
Apaixonado por futebol, Nikollas tem na sua mãe os seus olhos, que com todo o amor e carinho, lhe vai narrando os jogos da sua equipa preferida, passando para ele através da sua voz, toda a emoção do jogo, tanto nas suas conquistas, como nas suas derrotas.
“Agradeço à Fifa por poder falar para o mundo do futebol que a pessoa com deficiência existe e precisa ser amada e incluída.”, concluiu Silvia no seu discurso de agradecimento.
Mais tarde, Silvia deu uma entrevista ao canal Sport TV onde confessou acreditar que este prémio é um sinal da sua missão para falar por todos as pessoas que têm deficiência e que infelizmente não têm acesso às oportunidades que todas as outras pessoas têm.
“Eu estive vários anos com o Nickollas no estádio. Depois que aconteceu tudo isso, eu percebi o quanto a gente foi invisível em alguns anos. E aí eu me perguntei: por que toda essa visibilidade hoje? Passei a acreditar que isso é uma missão para falar não só em nome do meu filho, mas de todos. Eles precisam desta oportunidade. Eles podem tudo, mas precisam de oportunidade. O futebol é tão transformador… Ele transforma a vida do meu filho”, disse Silvia.
“As pessoas me perguntaram se eu tinha escrito um discurso. Eu decidi falar com o coração. Quis compartilhar com o Justo Sánchez, que tem uma história tão linda. Tenho de agradecer pela oportunidade, porque pude falar para o mundo o que tive vontade. Quando eu vi todo mundo aplaudindo em pé, meu coração estava na boca. Muita emoção“, completou a mãe de Nickollas.