Em dezembro de 2015, na cidade de Petrolina, Pernambuco, o corpo de Beatriz Angélica Mota Ferreira da Silva, de apenas sete anos, foi encontrado sem vida com marcas de facadas dentro da escola em que a criança estudava.
Depois de perder a filha de uma forma tão brutal, Lucinha Mota, não parou até encontrar o assassino da menina. Por anos, a mãe de Beatriz conduziu sua própria investigação, paralela à da polícia. E depois de andar mais de 700 quilômetros, ela conseguiu identificar o assassino da filha.
Após a tragédia, Lucinha afirma que sentiu que chegou ao fundo poço, e depois de várias tentativas de tirar a própria vida, ela deixou de se alimentar. Ao perceber que ela só tinha dois caminhos a seguir, ela decidiu lutar por justiça.
Durante a investigação inicial da polícia, foi afirmado que não existia imagens das câmeras da escola pois elas estavam com defeito e que não tinham material da cena do crime. No entanto, depois as imagens gravadas “apareceram”.
Desta forma, Lucinha decidiu iniciar uma investigação paralela. “Abandonei minha vida, abandonei meu trabalho: me dediquei 100% ao inquérito durante sete anos.”, contou ela ao Universa.
Mas logo começaram a aparecer algumas inconsistências. Quatro anos depois, no final de 2019, ela descobriu que o chefe do departamento da Polícia Científica de Pernambuco, que acompanhava o caso, trabalhava para a instituição como segurança particular.
Quando chegou a pandemia, em momento de desespero, foi criado o Somos Todos Beatriz, para fazer um movimento online.
Durante uma live nas redes sociais, Lucinha conheceu Freddy Ponce, um investigador de homicídios em Miami, nos Estados Unidos, que ofereceu seus serviços e disse a treinaria e a formaria uma investigadora criminal.
Com base nas imagens, que mostrava o caminhar e gestos do assassino, Freddy traçou o perfil de um criminoso sexual que tinha como vítimas crianças, junto com um retrato falado digital.
E assim, a mãe de Beatriz também decidiu cursar direito para entender a linguagem técnica, onde muitas pessoas sofrem por não compreender.
Ao distribuir cerca de 10 mil panfletos com o retrato falado do assassino por todo o país, Lucinha recebia muitas denúncias e, muitas vezes, ia até locais de crimes com crianças de Petrolina para investigar.
Desta forma, ela ‘virou revendedora de cosméticos’ e colocava uma peruca loira para não ser reconhecida. “Meu objetivo era identificar a pessoa e conduzi-la até a delegacia para fazer o exame de DNA e confrontar com o material do assassino encontrado na arma do crime.”
Durante anos, ela batia de porta em porta com revistas de amostras de produtos. E durante conversas com cliente, ela conseguia informações de quem estava procurando e sempre descobria o que queria.
Para chamar a atenção do país inteiro e das autoridade, Lucinha decidiu fazer caminhar 721 quilômetros, de Petrolina até Recife. Outras pessoas se mobilizaram e a acompanharam na caminhada que durou 24 dias e 23 noites.
Quando chegaram à capital, em dezembro de 2021, o governador do estado se viu na obrigação de a receber. Ela pediu que ele colocasse o DNA presente na arma do crime contra Beatriz no banco nacional. Apesar de ele falar a Lucinha que já tinha colocado, ela sabia que não.
“Foi só quando ameacei denunciá-lo à Corte Interamericana dos Direitos Humanos como cúmplice do assassinato que eles colocaram. Quando isso finalmente foi feito, chegaram à identidade do assassino de Beatriz.”
O DNA do homem estava no banco nacional desde 2017. O homem foi indiciado e já cumpre pena por abusar de uma menina de oito anos, crime que aconteceu um ano depois da morte de Beatriz. Em relação ao caso da filha de Lucinha, ele confessou o crime e aguarda júri.
“Conseguimos finalizar uma etapa, que é o inquérito. Em relação a isso, consegui justiça. A gente chegou à autoria, chegou à motivação. Mas isso só terá fim no dia em que o assassino for julgado e condenado, no dia em que eu sair do júri com a sentença dele. Só assim a Beatriz vai ter a justiça que ela tanto merece.”
Imagem de Capa: Arquivo Pessoal
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