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“Meu coração dizia que ele não tinha morrido”: mãe reencontra filho sequestrado 34 ANOS DEPOIS

Quatro anos depois de o pai de Francisco Josenildo ser assassinado, o menino, que tinha 11 anos na época, foi raptado enquanto vendia salgados em Rio Branco, no estado brasileiro do Acre.

Ele é o mais velho dos sete filhos da técnica de enfermagem aposentada Iraci Feitosa da Silva, que tinha 31 anos quando o primogênito desapareceu, em 1987.

Josenildo tinha o desejo de vingar a trágica morte do pai, que Iraci, porém, parecia prever que isso poderia os separar de alguma forma.

“Ele encontrou com essa mulher que disse que era a mãe dele, que não era eu. Ele botou na cabeça que queria vingança pela morte do pai dele. E eu tentava tirar da cabeça dele, dizendo: ‘seu pai não vai voltar se você fizer isso, você vai complicar sua vida, você é criança, pare com isso’. Ela levou ele, e ele fugiu dela, e daí ficou andando pra cima e pra baixo”, contou a mãe, de acordo com o portal g1.

A mulher, apontada como responsável pelo rapto do menino, vendia salgados em frente ao hospital onde a mãe biológica de Josenildo trabalhava. Ela convenceu o menino a ir com ela prometendo que o levaria até o local onde o pai morreu, para que pudesse “acertar as contas” com o suposto assassino.

A Busca por Vingança

“Foi isso que me levou a acompanhá-la. Eu disse: ”Então eu vou’. Ela me prometeu que me levava. Chegamos na rodoviária, permanecemos em um hotel, no dia seguinte a gente pegou o ônibus e fomos pra Porto Velho. Chegando lá, esse senhor [dono de uma carreta com a qual ela tinha conversado no dia anterior] já estava lá esperando, e de lá seguimos com ele pra Florianópolis”, contou Josenildo.

No entanto, depois de chegarem à cidade, ela deixou o menino brincando sozinho e sumiu. “Aconteceu tanta coisa na minha vida que fiquei com o intuito de voltar para o Acre, porque eu tinha lembrança de Porto Velho e Acre. Fiquei procurando voltar. Pedia para umas pessoas para me trazer, algumas não queriam, então eu subia nas carretas, nos estepes e para onde Deus me levava eu ia. Fiquei rodando até chegar no Acre de volta”, relembrou ele.

Quase sete anos depois do rapto, entre várias caronas perigosas, Josenildo conseguiu chegar a Porto Velho (RO), no qual uma outra mulher o encontrou sozinho na rodoviária pedindo comida.

“Ela perguntou se eu morava na rua. Eu disse que morava sozinho, na rua. Ela perguntou se eu não queria ir morar com ela, para o rumo de Brasiléia [distante mais de 230 km da capital Rio Branco]. Eu fui”, falou.

Durante todos esses anos, Iraci seguia desesperada na busca de seu filho desaparecido, sem saber que ele havia cruzado o país em busca de vingança.

“Eu sempre tive muita fé em Deus que eu ia conseguir ver meu filho de volta. Eu nunca achei que tivessem matado ele, ou que ele havia morrido. Pedi muito a Deus e a Nossa Senhora que trouxesse meu filho de volta. Eu andava por todo canto, falei nas rádios, na PM”, contou ela.

A Jornada de Adoção de Josenildo

Antes de ser definitivamente adotado, Josenildo passou por duas famílias onde não se adaptou. Em meio a desavenças com sua segunda família, ele conheceu o seringueiro Sebastião Tigre, que o convidou para viver com sua família.

Josenildo recorda com emoção os momentos felizes vividos com seus pais adotivos, onde foi registrado, cresceu e foi criado. Destaca que Zinha Tigre, sua mãe adotiva, foi fundamental para que ele enfrentasse seus traumas e procurasse sua mãe biológica.

“Eles me fizeram quem eu sou hoje. Minha mãe adotiva sempre me incentivava a conhecer minha história, mesmo eu não gostando”, conta Josenildo.

Zinha faleceu no final dos anos 1990 após lutar contra o câncer, deixando Josenildo com 18 a 20 anos. Depois de sua morte, ele desistiu de buscar seu passado, até que um sonho o motivou a retomar a busca. Em 2014, já casado e com filhos, ele decidiu reencontrar sua família biológica.

O Reencontro Emocionante

Ao passar pela casa de sua tia, Clarice Feitosa da Silva, de 75 anos, Josenildo a reconheceu e mencionou o nome de sua mãe biológica. Após um exame de DNA, a confirmação veio. O reencontro foi tão emocionante que sua mãe biológica precisou de atendimento médico.

Francisco Josenildo com parte de sua família biológica. Imagem de Arquivo Pessoal.

Hoje, Josenildo se sente parte de uma família unida, com sete irmãos biológicos e oito netos, sendo quatro filhos dele. “Agora estamos todos felizes. Um apoia o outro, e a família aumentou”, diz sua mãe biológica.

Josenildo tem 11 irmãos adotivos e seis biológicos. Imagem de Arquivo Pessoal.

Desafios e Adaptação

A adaptação com a nova família trouxe dois desafios principais para Josenildo: o nome e a idade. Agora, ele é Francisco Josenildo Araújo Marreira Tigre, combinando seu nome de batismo e o nome dado pela família adotiva. Além disso, sua data de nascimento oficial é 1º de julho de 1975, embora ele tenha sido registrado em 4 de outubro de 1980 pela família adotiva.

Josenildo reflete sobre sua jornada de adaptação e gratidão: “Vivia uma realidade, mas minha história era outra. Agradeço a Deus por ter me permitido viver isso. É como sair de uma prisão para a liberdade.”

Sua mãe biológica, Iraci, nunca perdeu a esperança. “Foram 34 anos [esperando] mas agora estou feliz. A gente nunca deve desistir porque as pessoas me diziam: ‘a senhora tá enganada, ele deve ter morrido’, mas eu dizia: ‘olha, meu coração dizia que ele não tinha morrido e eu vou conseguir ver meu filho, embora seja a última coisa que eu faça na vida’. E consegui. E não foi a última coisa que eu fiz na vida”, celebrou.

“A gente nunca deve desistir”, pode soar clichê se dita por outra pessoa, mas dita por Iraci Feitosa da Silva, de 67 anos, é apenas o resumo da história da vida dela e do filho, o vigilante Francisco Josenildo da Silva Marreira Tigre.

Dos seus 48 anos de vida, ele ficou 34 anos desaparecido, separado da família biológica e, principalmente, da mãe que, mesmo após três décadas, nunca desistiu de reencontrá-lo.

Imagem de Capa: Arquivo Pessoal

Sábias Palavras

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