Em 2017, a biomédica de Bertioga, litoral de São Paulo, Gizele Thame recebeu o triste diagnóstico de um tumor cerebral, o adenoma hipófise não-hormonal, onde, segundo os médicos, o único tratamento seria uma cirurgia que, além de não ser possível retirá-lo completamente, poderia deixar graves sequelas irreversíveis.
Devido ao grande risco e não garantir qualidade de vida, ela recusou a opção de tratamento cirúrgico.
A hipófise é uma glândula que está no sistema nervoso central e produz vários hormônios que se ligam a glândula como a da tireoide, sexuais e a adrenal. É fundamental para o bom funcionamento do corpo humano.
Antes de começar o uso das gotinhas do óleo de canabidiol, derivado da cannabis ou maconha, como é popularmente conhecida, Gizele não dormia bem, sentia muita dor e estresse.
O uso do óleo de canabidiol tem sido cada vez mais frequente para o tratamento de dores crônicas, ansiedade, depressão, epilepsia e fibromialgia, entre outras patologias, amenizando sintomas de doenças, trazendo a melhora da qualidade de vida para esses pacientes.
Convivendo diariamente com as consequências geradas pela situação, o filho de Gizele, Raul Thame, decidiu apresentar a cannabis como alternativa para tratar o que era considerado intratável em sua mãe.
Assim como inúmeras pessoas, sua mãe precisou se livrar do preconceito para aceitar a ideia e tentar se curar de uma grave doença.
A responsável por prescrever o tratamento foi a psiquiatra Eliane Nunes, diretora da Sociedade Brasileira de Estudo da Cannabis Sativa (SBEC).
Desde o primeiro uso, o fitoterápico é feito por Raul, que fez um curso para aprender a extrair o óleo, e eles começaram a cultivar a maconha em casa, ilegalmente. Com menos de dois meses de tratamento, todos os sintomas tinham ido embora. Gizele parou de brigar, conseguia dormir e voltou a ter qualidade de vida.
“O tumor permaneceu estável durante um ano e meio de tratamento com extrato artesanal feito em casa, até que uma ressonância magnética, em agosto de 2018, apontou o que parecia improvável: O tumor havia regredido!”, contou Raul em uma publicação no Facebook.
Apesar do perigo de cultivar um planta ilegal, ele preferiu arriscar. “Foram dois anos correndo o risco de ser preso e processado por cultivar uma planta e fazer a extração do seu remédio fitoterápico, responsável pela regressão do tumor da minha mãe.”, revelou.
A partir disso, eles entraram com um pedido de habeas corpus preventivo para plantar legalmente, usando como comprovação a redução do adenoma.
Depois de muita luta, eles conseguiram um salvo conduto na Justiça Federal para garantir segurança e a continuidade do tratamento, comprovado por laudos médicos e exames de imagem.
“No penúltimo exame de ressonância magnética, feito em novembro de 2021, o tumor já havia reduzido em quase 60% seu tamanho pré-tratamento!”, afirmou Raul.
Gizele foi a primeira pessoa no litoral de São Paulo a conseguir essa autorização, cedida pela juíza da 6ª Vara Federal de Santos, e 37ª do Brasil. Apesar de não ter comprovação científica que foi a cannabis que fez o tumor entrar em remissão, esse foi o primeiro caso que seu neurologista viu.
A grata surpresa para ela veio no último mês, depois de seis anos de uso do CBD, quando descobriu que o tumor entrou em remissão, isto é, sumiu quase que por completo. “O milagre aconteceu”, celebra.
Em seu último exame realizado em 09 de março de 2023, as imagens mostraram que houve a involução praticamente completa da pequena lesão na porção anterior e esquerda da adeno-hipófise e uma grande melhora na qualidade de vida de Gizele.
“Quem está doente, ou que tem alguém alguém próximo nessa situação, sabe o sofrimento que é gastar boa parte de sua renda para comprar medicamentos paliativos. Ou, pior ainda, não ter acesso ao tratamento que necessita.”, argumentou Raul.
“O preconceito não pode se tornar um empecilho para que as pessoas tenham a chance de superar uma dor.”, concluiu.
Imagem de Capa: Facebook Gizele Thame
