Mudar o rumo das coisas, trocar a mobília da casa e da alma, começar a dormir sob outro teto, quem sabe outra cidade, às vezes dá um pavor danado. Principalmente depois de muito tempo pensando só, quando a pessoa se torna o fantasma do seu próprio pesadelo. Porém, começar outra vez, seja em qualquer esfera da vida, é dar chance ao algo novo que surgiu acendendo a sua luz.
É também vencer a insegurança que atropela a esperança de um novo começo. É, antes de tudo, aprender a partir de você mesmo. Aliviar sentimentos apertados, desencaixotar sonhos possíveis e sonhar sonhos impossíveis. Seguir em frente com sua mala carregada de roupa limpa e saudades dobradas e deixar para trás o seu fantasma que só serve para deixá-lo estagnado.
Sim, nem sempre é fácil cair de cabeça em uma estrada desconhecida.
Aliás, você já percebeu como estamos sempre escolhendo? Usar a camisa branca de sempre ou ousar variar com a colorida? Viajar para conhecer outro país e uma nova cultura ou trocar de carro? Terminar o relacionamento que não tem mais graça nem mais amor ou mantê-lo para não ficar sozinho outra vez? Continuar na casa dos pais ou morar sozinho? Suportar o trabalho sufocante ou procurar realização profissional em outro lugar? É precipitado ou tarde demais para fazer um novo começo?
O mais difícil é escolher entre deixar uma vida garantida, mas meio morta, ou ir atrás de um futuro incerto, mas cheio de vida no presente. Alguns dizem que quem faz escolhas que podem mudar o rumo de uma vida corre o risco de sair perdendo porque pode não fazer uma escolha certa, ou porque, ao escolher um caminho, deixa para trás uma bagagem que nem sempre cabe em sua nova viagem. Porém, talvez, quando compreendemos a nós mesmos, quando optamos por ser isso, ou aquilo, e estar aqui, ou ali, nós também estamos ganhando, por mais sofrido que seja o processo de escolher.
E será que o importante é acertar sempre? Quando se vive determinada situação, a decisão sincera que vem do coração deve ser o caminho para aquele momento. A vida se encarregará de desenrolar as dúvidas restantes e levar os planos aos destinos que forem sendo traçados. Se lá na frente der certo ou errado, ter vivido o caminho com fé, alegria e honestidade deve ser o que importa. Se precisar, o próprio viver levará a novas escolhas, com a experiência do vivido e aprendido até então.
Tem que ser esse o sentido da vida, de estar vivo!
Só quem está morto não pode mudar o que não vem lhe fazendo bem nem trazendo felicidade, ou só quem não tiver coragem.
Por que deixar de fazer algo por medo de tentar? O medo que represa os sonhos na parte mais fria do oceano da alma. A insegurança que te faz perder o leme da embarcação. A solidão que dói nas dúvidas que singram por lágrimas sombrias.
Porém, um dia, você não se sente mais só. Veio a brisa da vida secar seus olhos marejados. Chegou a lembrança de que nada acontece por acaso. Nasceu o abraço ensolarado com a promessa amiga de que uma hora a maré baixa passará. É certo. Vai passar.
E quando a maré subir de novo, você já não será mais o mesmo. Porque a vida acontece agora: além-mar é preciso ir!
Por: Rebeca Bedone