Dizem que no inverno todo mundo quer alguém pra dormir junto, pra esquentar o pé, pra dividir um chocolate quente. O coração precisa encontrar seu par para se sentir aquecido e sobreviver à nevasca. Ninguém sabe da tempestade que enfrentei, do terremoto que me desmantelou, do maremoto que me alagou. Você nem desconfia que não congelei, que não abdiquei dos meus amores, que sofri mas soube esconder.
Eu estava pronta para ir, para encontrar o meu infinito longe da dor, mas você me fez ficar. Não disse nada, nem precisou. É aquela coisa de entender a intensidade de um olhar; toda a dor, toda a súplica, toda a necessidade. Você me entendia melhor do que supus. Tentei um escape, porque deveria me preservar, negar a imprevisibilidade, bloquear a incerteza. É que, enquanto eu era verão, você era primavera. Florescia, coloria, engrandecia, purificava. O meu verão queimou suas flores, incendiou suas esperanças, secou suas previsões. Eu era demais, enquanto você, muito pouco. Pouco decidido, pouco resolvido, pouco vivido: aquele era você. Pequeno, sempre correndo, com problemas para saber quem era, o que era e o que queria.
Exatamente como a música, eu sonhava com o amor, enquanto você vivia para fugir. E, se tem uma coisa que aprendi, é que não dá para almejar o amor se ele vai fugir de você. Dizem que queremos sempre aquilo que não podemos ter. O problema é que eu tive você – mesmo às avessas, mesmo contrariando as leis da felicidade, mesmo sentindo-me incapacitada pela dor. Alguém me disse um dia que os problemas existem aos montes e que os relacionamentos servem para isso, para fortalecerem as certezas e as esperanças. Se o amor não é capaz de entender que nem toda história é um “mar de rosas”, por que conquistou? Por que retribuiu? Por que ficou? Ninguém deve ficar, se vai machucar, anular, brincar. Se vai somente engrandecer expectativas, vá embora de primeira. Não olhe para trás, simplesmente suma. Porque, assim, quem ficou ainda tem a chance de se refazer, de reconstruir as memórias, de seguir em frente.
Aprendi que seus problemas não seriam superados, que suas flores me sufocariam, que suas raízes me estancariam no mesmo lugar. E o amor, ao contrário, dá asas. Liberta. Acolhe. Eu não precisava lidar com todo o seu pouco para enfim entender que amor não se pede, nem se implora. Por isso, quando o adeus se fez definitivo, o inverno chegou – não para mim, mas para você. A abstinência sempre foi o seu ponto fraco. Independentemente do que for, ninguém é obrigado a retribuir para testar o outro, ou apenas para ter alguém com quem dividir as cobertas. É que todos nós merecemos somente o amor que quiser vir, que chega de graça, que não tem medo, que produz sorrisos – não lágrimas, não sofrimento, não loucura. Merecemos o amor que queira merecer o nosso, que não esconde o sentimento, que não tenta nos derrubar. E, hoje, entendo por que me amo melhor agora. É porque longe de você, o meu verão não precisa se preocupar com chocolate quente, ou meias nos pés. E, acima de tudo, porque a felicidade sempre esteve longe de pessoas que não se doam às outras.
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