Enquanto eu te esquecia, você se mostrou ainda mais fútil do que eu poderia imaginar…
Você partiu, muito antes de saber o quanto eu te amava. Eu tinha os meus receios, assim como qualquer coração inseguro. O medo me impedia de demonstrar o quanto eu era louca por você, mesmo que toda essa forte emoção ultrapassasse qualquer razão convicta. As minhas atitudes comprovavam o que a minha boca tentava guardar. Eu até conseguia controlar as minhas palavras, mas quando se tratava de você, eu já poderia ser considerada um caso perdido. Era nítido que os meus olhos procuravam desesperadamente os seus.
Os meus lábios, desejavam encostar nos seus. A minha língua suplicava por seu corpo. As minhas mãos ficavam inquietas desejando te tocar. Eu tentava controlar um sentimento que me empurrava cada vez mais para frente, mesmo que na corda bamba da vida, eu ainda fosse covarde demais para arriscar ultrapassar os limites.
Talvez, em todo esse tempo que já passou, você nunca tenha pensado ou tentado imaginar o quanto eu sofri tentando te esquecer. Imagine um coração pulsando descontroladamente e, de repente, cabe à mim a missão de desacelerar todo o maquinário. Não é uma tarefa fácil, aliás, essa palavra sempre foi difícil. Era como se te ver ou estar com você, alimentasse toda a produção dos meus órgãos, em perfeita sincronia.
No começo, eu realmente achei que fosse morrer sem você.
Eu não sentia fome, não conseguia dormir e francamente, você era o assunto de qualquer bar que eu estivesse. Até mesmo quem não te conhece, sabe quem é você. Você é uma personalidade no mundo da desilusão. Estou endividada com tanta bebida que eu comprei para te esquecer. Mas não se preocupe, apesar de tudo o que aconteceu com a gente, eu não consigo falar coisas negativas sobre você. Ainda que o meu maior defeito, é citar o seu nome sem querer.
Enquanto eu te esquecia, eu fiz muita besteira. Eu errei, e persisti em vários deles. Eu emagreci em um período e engordei o dobro depois. Enquanto eu te esquecia, eu me aproximei de alguns amigos que eu não mantinha muito contato. E ganhei outros novos, que já sabiam de longe a nossa história. Enquanto eu te esquecia, eu aprendi que o café frio é capaz de refrescar um coração quente. Enquanto eu te esquecia, eu frequentei alguns lugares que fomos, escutei músicas que não me deixam te esquecer.
Enquanto eu te esquecia, eu perdi o sono. Enquanto eu te esquecia, eu me torturei procurando o seu perfume em outros pescoços. Buscando o seu beijo em outras bocas, querendo o seu conforto em um abraço que nunca seria o seu. Enquanto eu te esquecia, eu superei os meus limites e jamais consegui enxergar o quanto o tal do amor próprio poderia me ajudar. Enquanto eu te esquecia, me tornei uma pessoa chata por ser tão repetitiva sobre você. Escutei falar muito mal de você, e ainda te defendi algumas vezes.
Todo esse sofrimento não foi por falta de tentar.
Em nenhum momento fiquei acomodada. Enquanto eu te esquecia, eu conheci outras pessoas. Vivi outras experiências, me entreguei e me dediquei para que desse certo. Eu me permiti, fiz coisas que eu julgava incapaz e me surpreendi quando poucas delas estavam quase dando certo. Enquanto eu te esquecia, eu perdi a maturidade e me envolvi com tantas outras pessoas ao mesmo tempo. Eu fui imprudente, desesperada e inconsciente. Enquanto eu te esquecia, eu machuquei corações alheios e joguei algumas suposições no lixo. Dispensei pretendentes que poderiam valer a pena e não consegui retribuir tudo o que me ofereceram. Eu menti, quando disse que tinha outro alguém no seu lugar.
Você não consegue imaginar o quanto você me ensinou. Eu aprendi o que é o gostar, a paixão e o amor. Hoje eu consigo compreender o porquê o ser humano está se tornando cada vez mais irresponsável, quando o assunto é relacionamento. Cada um, carrega consigo traumas, receios e dores que, quando não superadas, remoem feridas que perduram por um tempo indeterminado. Todo mundo possui uma história idealizada, um exemplo e uma saudade.
Apesar de tudo isso, eu continuo sentindo a sua falta. Não é forte como antes, é como uma dor leve de cabeça. Aquela que embora incomode um pouco, não interfere em todo o restante. Agora você não é mais um controle das minhas sensações, recuperei a minha posse interior. Um amor maduro não despenca, é assim que eu me sinto quando falo de você. Você sempre será especial, de alguma forma, mas se você soubesse da minha fissura quando te conheci, você perceberia que foi um desperdício não cultivar os frutos.
Em um certo momento, enquanto eu te esquecia, eu lembrei de mim…
Enquanto eu te esquecia, finalmente e felizmente, eu comprovei o quanto eu era idiota em querer alguém como você. Eu senti vergonha por ter feito o papel de palhaça e ao mesmo tempo, me orgulhei, em ter conhecido o melhor que existia em mim. Sinceramente, eu não imaginei que eu chegaria tão longe por alguém, muito menos que eu insistiria tanto em um machucado que nunca deixou de sangrar. Enquanto eu te esquecia, eu tive amnésia do orgulho. Eu fui exemplo de fracasso para os casais, e o desejo de alguns solteiros. Enquanto eu te esquecia, eu perdi um pouco da minha essência e recuperei o triplo na sequência. Enquanto eu te esquecia, eu me perdi muitas vezes, mas agora encontrei outro caminho que não é o seu abismo. Eu demorei para entender que eu te esqueci. Você nunca somou, você subtraiu.
Por fim, eu te agradeço por ter sido mestre em ensinamentos.
Mesmo sem ter consciência das reais importâncias, saiba que foi você quem me ensinou a amar e esquecer. Mas se pensarmos friamente que, quando amor, não se esquece. Podemos comprovar que assim como você, as suas marcas gravadas em mim não passam de breves lembranças.
Posso descrever você como mais um caso, do meu acaso. Assim como os amores de verão, que parecem ser únicos, mas quando colocados na balança, são apenas mais um, em meio a tantos outros. Eu me enganei sobre os sentimentos. Isso acontece, enquanto somos aprendiz. E infelizmente, a conclusão é que você não faz a menor diferença.
Me desculpe, mas a culpa foi minha em te subestimar demais…
Abaixa a sua bola, você foi apenas um equívoco.
Adeus!
Por: Jéssica Pellegrini
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