Diz-me, tens um irmão ou uma irmã? Então vais perceber exactamente tudo o que eu irei dizer. Porque de certeza que esse teu irmão já se meteu em mil trapalhadas, desde comer chocolate às escondidas, e ser apanhado em flagrante, a tentar esconder, sem sucesso, dos teus pais aquele teste cuja nota foi mais que má.
E de certeza que já lhe deste um belo sermão, não pela asneira em si, mas porque não te pediu que o ensinasses como fazer asneiras sem ser descoberto. Até podes ter-lhe dado um sermão pela própria asneira, mas esse não foi assim tão grande, pois não?
O meu irmão é o homem da minha vida. Sempre será. É dele que cuidarei até ao fim dos meus dias, independentemente das parvoíces que ele faça na vida (quem não as faz?) e dos dias em que só me apetece mandá-lo desaparecer (são tantos!). Mas nunca mando mesmo, até porque sem ele comigo faltaria um pedaço de mim. Porque é o meu irmãozinho. Pode ser um tonto imaturo com dificuldades a Português e História e um grave vício pela prática do “fazer nenhum”, mas é o meu tonto imaturo com dificuldades a Português e História e um grave vício pela prática do “fazer nenhum”.
Morreria e mataria por ele sem pensar duas vezes.
Rezo, e eu nem sou uma pessoa religiosa, para que ele alcance tudo o que deseja alcançar, para que nunca se contente com pouco, seja pessoal ou profissionalmente, e para que seja a pessoa mais feliz à face do planeta. Quero que ele encontre o amor da vida dele, um curso interessante, um trabalho que o apaixone, amigos para todas as ocasiões.
Quero que ele seja uma pessoa bem educada e bondosa com outros, nunca fria ou calculista sem razão. Quero que ele nunca chore nem cometa erros. Quero que ele seja perfeito e que tenha uma vida igualmente perfeita.
Mas tudo isto é impossível de controlar e a cada dia que passa ele fica mais crescido.
A primeira desilusão amorosa não tardará muito, por exemplo, e tudo o que desejo é arranjar forças em mim para o deixar resolver ou não resolver as coisas à maneira dele e não desfazer imediatamente a pessoa que será responsável por ela, porque sei bem que essa também foi a vontade dele quando isso me aconteceu a mim. Se não suporto ver um professor a fazer-lhe acusações falsas e infundadas ou um “amigo” (também tiveste desses provavelmente) a tentar rebaixá-lo por causa de um comentário menos inteligente na aula de Geografia, imagina só o que irei sentir quando o vir a chorar por uma mulher sem sal nem pimenta que se acha coberta das especiarias todas.
Não faço ideia da situação do meu irmão daqui a 10, 20, 30 anos, mas sei que estarei sempre ao lado dele, para o bom e para o mau, porque amor de irmãos é inexplicável e inegável, é um laço que vai muito para além do sangue e que faz com que todo e qualquer instinto protector que tenhas se ligue e não desligue mais. Amo o meu irmão do fundo do coração e, enquanto eu estiver por perto, ele terá sempre uma rede de segurança à espera dele caso caia de um precipício.
(dedicado a Rodrigo Simões)
Por: Raquel Simões