Um menino de quatro anos que sofre de paralisia cerebral e síndrome de West vai conseguir finalmente melhorar um pouco a sua qualidade de vida, após o magistrado António José Pêcego da 3ª Vara Criminal da Comarca de Uberlândia (MG) ter autorizado aos seus pais a plantar maconha em casa na quantidade necessária para produzir um medicamento derivado da planta que irá aliviar os seus sintomas.
Chegando a ter cerca de cem ataques epilépticos em apenas um dia e a viver num estado semi-vegetativo devido aos medicamentos que tratam a doença, esta decisão irá certamente melhorar bastante não só o estado de saúde do pequeno, como a vida dos seus pais que vivem em constante alerta.
“A decisão do juíz nos trouxe a tranquilidade de saber que o tratamento dele não sofrerá interrupção, garantindo assim uma melhor qualidade de vida”, disse o pai do menino ao EXTRA preferindo não se identificar.
O magistrado António José Pêcego justificou a sua decisão, escrevendo no liminar: “o Estado não garantindo, no caso específico, esses direitos (direitos à vida, dignidade e saúde), nada mais justo que o Poder Judiciário interfira para garantir e assegurar ao menor, um meio de vida digno, saudável e acima de tudo com dignidade”.
De acordo com o pai, o menino já nasceu com paralisia cerebral. Contudo, aos 4 meses, desenvolveu epilepsia, começando com pequenas crises. Infelizmente, aos 7 meses, a doença evoluiu para uma forma rara e agressiva, chamada síndrome de West.
Anteriormente, o seu tratamento era feito com base em três medicamentos anti-convulsivantes: Valproato de sódio, Topiramato e Clonazepam. Contudo, estes faziam com que a criança passasse a maior parte do dia a dormir. Além disso, ainda lhe fez perder a capacidade de deglutição, passando a alimentar-se exclusivamente por uma sonda.
Felizmente, após bastante pesquisa, os pais acabaram por descobrir um tratamento à base de óleo de cânhamo – derivado da planta cannabis sativa – que alivia bastante os seus sintomas. Contudo, a importação do medicamento é bastante dispendiosa, algo que os pais não têm capacidade financeira para suportar. Daí terem pedido autorização para poderem produzirem em casa, diminuindo bastante os custos do tratamento.
“A mãe tem que trabalhar um período curto, pois o filho precisa de apoio 24 horas. O pai é servidor público, mas não ganha o bastante para conseguir importar o medicamento à base de maconha, pois é muito caríssimo — contou Daniela Peon Tamanini, advogada que representou a família. “Apresentámos documentos que mostravam o bom resultado do tratamento e a impossibilidade de continuar com os três remédios fortes que deixaram a criança dormindo na maior parte do dia.”
Sem dúvida um passo importante na consciencialização da sociedade a respeito da medicação produzida a partir da cannabis.
Fonte: O Globo