“Passei a guarda do meu filho para o pai e sou julgada todos os dias por isso”

Na infância, os primeiros brinquedos que as meninas costumam ganhar é uma boneca, que logo passa a ser chamada de sua “filhinha”. Apesar de ser apenas uma brincadeira de criança, aprendemos que as mulheres são “obrigadas” a ser mães, custe o que custar.

A estudante de Psicologia brasileira Dandara Ramalho, de 26 anos, revela através de um relato para o blog “Tudo Sobre Minha Mãe”, o que vive depois que passou a guarda do seu filho para o pai e como esta decisão veio carregada de culpa e de julgamentos.

A mineira de Belo Horizonte, mãe do João, e agora Dandara Fagundes, mostra como nenhuma mulher é “menos mãe” por tomar esta difícil decisão.

Embora tivessem uma guarda compartilhada, a criança vivia com ela. No entanto, ela mesma teve a iniciativa de inverter os papéis e deixar que o pai assumisse a criação diária do filho.

A decisão foi tomada após ela se sentir infeliz por não poder continuar a fazer faculdade e perder sua única rede de apoio, sua avó, que cuidava da criança enquanto ela trabalhava.
Durante sessões de terapia, Dandara percebeu que o pai poderia cuidar do filho durante a semana, mas sentiu-se culpada por querer seguir seus sonhos.

“Foi durante sessões de terapia que eu comecei a me questionar: mas eu não tenho ninguém que possa ficar com ele? E claro que eu tinha. O próprio pai.”

Ela vivia com sua mãe e irmão, que a julgou severamente ao saber de sua ideia, sugerindo que Dandara trabalhasse meio período enquanto o filho estivesse na escola e estudasse à noite, e mesmo assim, negou ajudá-la, dizendo que a obrigação era dela, que tivesse pensado antes de ter filho.

“A culpa que nós mulheres carregamos estava lá entranhada em mim. Querendo impedir esta possível solução. Afinal querem nos fazer acreditar que a culpa é sempre nossa, não é? Foi uma decisão que precisou ser construída dentro de mim.”

Junto com o pai de João, que aceitou a proposta, seguiram em frente com a decisão.

No entanto, sua mãe acabou cumprindo a ameaça de expulsá-la de casa se o filho fosse morar durante a semana com o pai. E desta forma, Dandara teve que se mudar para uma quitinete próxima à faculdade.

Novamente ela precisou conversar com o pai da criança explicando que com as despesas de morar sozinha, não conseguiria ajudar financeiramente, mas ele se ofereceu para arcar com todas as despesas do filho e incentivou a mãe a seguir seus sonhos e investir em sua formação.

Embora quisesse ter o filho morando com ela e acompanhá-lo de perto, a mãe sabia que a decisão tomada foi a melhor para ambos. Ela preferiu que a criança passasse os fins de semana com ela, para ter um tempo de qualidade juntos. Mesmo assim, ela tem consciência de que há julgamentos e perguntas indiscretas sobre sua decisão, mas prefere ignorá-los e seguir em busca de seus sonhos.

“Quando eu conto a minha história, eu recebo muitos olhares tortos e perguntas indiscretas. ‘Afinal, filho é da mãe, né?’ – é o que eu escuto. E eu vou ignorando, levando minha vida em paz, buscando meu diploma e tendo a certeza de que meu filho hoje tem qualidade de vida, mais conforto, não precisa ficar pegando ônibus comigo, na correria… Tem uma casa estruturada, estuda em uma boa escola, tem atividades extra curriculares. E tem o meu amor quando estou com ele.”

Imagem de Capa: Facebook Dandara Fagundes





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