Falar de perdão é muito difícil porque todos nós, sem exceção, estamos longe de sermos seres evoluídos. Nós sempre queremos ser perdoados numa medida INFINITAMENTE maior do que a que perdoamos quem nos tem ofendido. O problema é que isso não existe. É a lei da física a de que para cada ação existe uma reação na mesma direção e na mesma força, só que em sentido contrário, e isso significa que nós colhemos o que plantamos e que a cada um será dado de acordo com as suas obras.
Então se nós não perdoamos, nós não obtemos o perdão. E isso não depende propriamente da existência de um Deus, se você não acreditar nele, tudo bem. A não ser que você não ande de carro, nem de avião e nem usufrua de nenhum avanço tecnológico, na física você vai ter que acreditar.
Agora, se você acredita em Deus deve saber que Ele não conhece o perdão, porque ele não se ofende. O perdão está relacionado com a ofensa. Se não há ofensa, não é necessário o perdão. Ele criou leis para regerem as nossas ações. Seremos felizes ou desgraçados, de acordo com a nossa escolha. André Luiz diz em uma de suas obras que “Deus é Equidade Soberana, não castiga e nem perdoa, mas somos nós mesmos, na nossa própria consciência, que proferimos para nós mesmos as sentenças de absolvição ou culpa perante as Leis Divinas. Nós escolhemos o que vamos passar. Nossa conduta é o processo, nossa consciência, o tribunal” e quando a gente se revolta com as situações estamos nos revoltando contra nós mesmos e o que nos dispomos a aprender.
A palavra perdão não é usada nos textos mais antigos. No texto grego do primeiro século há a palavra aphiemi, significando, justamente, desligar. A palavra perdoar vem do Latim perdonare; dar plenamente, doar totalmente. Perdoar é desligar-se, libertar-se, livrar-se. É isso que se deve fazer em relação às situações adversas que vivemos. Perdoar em última estância, nada mais é do que amar plenamente a vida sobre todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos. O amor puro e verdadeiro cria uma camada que não nos deixa vulneráveis às agressões, aos maus tratos e às injúrias. O amor puro nos torna protegidos da ofensa e do ódio. Quando amamos verdadeiramente nos colocamos no lugar das pessoas, somos generosos, caridosos e não fazemos nem desejamos o mal, temos misericórdia, não julgamos, não condenamos. Quando amamos nos aproximamos dessa força criadora de todas as coisas maravilhosas do universo.
Mas se isso já é tão difícil de fazer quando alguém pisa no nosso calo ou não fala o que nós gostaríamos de ouvir, quem dirá quando alguém nos prejudica de uma forma grave? Atinge-nos de uma forma dolorosa, tira nosso chão, faz mal pra alguém que a gente ama, comete uma dessas atrocidades que a gente nunca acha que vai acontecer com a gente. Aí quando essas coisas horrorosas acontecem, quando a gente sente que alguém veio e virou nosso mundo de cabeça pra baixo e nada mais será a mesma coisa, a gente esquece tudo isso que a gente já sabe e diz “Nunca vou perdoar” e a gente se blinda no nosso sofrimento e cria uma camada de mágoa, raiva, frustração, tristeza e o que mais de ruim pudermos imaginar em volta da gente e deixamos de perceber que essa atitude gera um desequilíbrio imenso e que vai prejudicar a nós mesmos, porque o universo é harmonia e qualquer pensamento, palavra ou ação desarmônica produz um desajuste que terá que ser reparado, mais cedo ou mais tarde. “Ah, mas o que essa pessoa me fez não tem perdão”. Os sábios dizem que o mérito do perdão é proporcional à gravidade do mal, e a prova de vida é proporcional à gravidade do que já plantamos e agora temos que colher.
As pessoas que foram causadoras das ofensas que recebemos são falíveis como nós. Também estão neste planeta de aprendizado. Entre bilhões de mundos habitados, não é à toa que determinada pessoa cruzou nosso caminho. Somos instrumentos de aprendizado uns dos outros. E só não aprendemos se não quisermos, só não aproveitamos as oportunidades de aprendizado se ficarmos presos ao nosso orgulho, ao nosso ego, à nossa vaidade e àquilo que nós acreditamos ser justo sem ter conhecimento de tudo que andamos aprontando por aí. De novo, é a lei do livre arbítrio: você faz e fala o que quer, mas nessa, pode viver e ouvir o que não quer.
Mas então, se é tão difícil perdoar, desligar, liberta-se das ofensas e do mal, como é que a gente faz? É necessário o treino constante do perdão, lembrar que é um ciclo de reajuste, e que se não perdoarmos quem nos ofendeu, vamos acabar desejando – ainda que em pensamento – o mal para aquela pessoa e ficaremos num ciclo vicioso até que alguém se canse e deixe pra lá, até que alguém perceba que não é vitima porque já foi carrasco e decida que é melhor usar a vida e os sentimentos pra desejar amor que outra coisa. Serão muitos séculos, de muitas horas e de muitos dias de sofrimento se não formos capazes de perdoar.
Mas veja bem, perdoar não quer dizer esquecer. Quem tem uma memória saudável não esquece os acontecimentos, sejam eles bons ou maus. Perdoar é se distanciar de forma saudável, enxugar o fato, retirando-lhe, do conteúdo, a energia nervosa e negativa e, dessa forma, não se dedicar a perpetuar qualquer mal. Ficará apenas o fato e, em nós, a grandeza de uma pessoa que conseguiu aprender o que precisava e seguir em frente.
No fim, acho que tudo se resume bem a uma história de uma mulher que perguntou a um Guru Indiano chamado Sri Sri Ravi Shancar: Guru, como eu faço para não ter raiva e conseguir perdoar alguém que me fez um grande mal? E ele respondeu: Saia do seu ego e não se coloque como vítima. Imagine que a pessoa que te fez esse grande mal é um boneco de pano, inanimado e sem forças. Ele só pode te atingir se você precisar ser atingida. Ele só pode te machucar porque estava no seu caminho ser machucada. O universo está em equilíbrio, tudo são forças, mas só as leis universais é que são poder.