“Térreo”. Era a voz programada do elevador, abrindo as portas em seguida. Como sempre, saí naquele limiar de leve e pesado da terapia. Leve porque tinha entendido uma série de coisas; pesado porque tinha me intrigado com inúmeras outras. Só quem deita no divã consegue entender essa dualidade que é, também, criadora da nossa vida.
Uma das minhas grandes inquietudes é tentar entender o comportamento humano. Talvez seja por isso que eu escreva. E também por isso escolhi estudar e me aprofundar na literatura, que é um mundo sem fundo, como o homem. E acabo sempre juntando as duas coisas nessas pequenas crônicas da vida cotidiana.
Lembro que uma das últimas coisas que disse para minha terapeuta foi perguntar por que as pessoas têm medo de amar? E ela me deixou essa intriga para a próxima sessão. Aí, depois de uma avalanche de sensações, estou aqui numa cafeteria, bebendo mocaccino, ainda inquieto e pensando na vida. Ou pensando no último cara que estive a fim. Vocês acreditam que ele me disse que estava com medo de se apaixonar por mim? É claro que fiquei feliz por saber que eu era apaixonável novamente, depois da última decepção.
Mas igualmente fiquei surpreso com o seu medo de amar.
Pensei com certa tristeza que carregamos tantas feridas, muitas vezes abertas ainda, que não conseguimos acreditar e nos doar inteiramente a alguém. Aí até entendo! O medo de amar realmente toma a frente, como uma defesa natural. Por que amar se vai sofrer depois? A resposta é porque amor é meio assim mesmo: dói, mas é aquela dor sem propriamente doer; é aquela quietude inquietante; é aquela loucura sã, à la Camões.
Tudo bem que talvez um dia o amor acabe e que você se veja obrigado a se separar de alguém que por vezes o costume ainda quer junto. Tudo bem que você não fique velhinho ao lado da pessoa, como aqueles casais dos filmes. Tudo bem que você chore em alguma noite fria e chuvosa sentindo saudade do seu amor que partiu. Tudo bem doer, porque te torna mais forte e, quem sabe, mais humano.
Tudo bem sentir medo, mas, no fundo, por amor vale a pena tentar.
Aproveita que o outono chegou e, junto com ele, se deixe renovar. Tira aquele boy de stand-by, para de ignorar por medo de se apaixonar, responde aquela mensagem, manda uma música ou uma poesia, demonstra interesse, puxa papo, diz que gosta, chama para o cinema, para um café, para tomar um chope, pratica o apego, diz que tem local, mas o local mesmo é o coração. Só não fica onde não te cabe, onde é frio e onde não tem reciprocidade. Estamos falando de amor, e amor não é unilateral.
Deixa acontecer, deixa fluir, deixa crescer, deixa ser tomado novamente pelas borboletas no estômago, deixa a estória virar história, deixa de ser bobo, porque às vezes o amor está batendo à sua porta e você, cego, nem nota.
Por: Bruno Pereira