Nessa época, quando estamos perto de agradecer nossas conquistas e renovar nossos desejos para o próximo ano, é normal surgir alguma melancolia. É que abrimos a janela da alma para enxergar a vida lá fora. Com o olhar que vem de dentro, sabemos o que temos; mas também reparamos no que perdemos e o que nunca tivemos.
Dia desses, uma moça me falou que não estava animada. Ao lhe perguntar por quê, ela contou que será a primeira vez que passará o fim de ano sem o seu pai.
Do universo secreto de cada um de nós, há um poço de desilusões, desamores ou desconfiança.
Lembrando daquela moça e sua história, comecei a pensar o que é felicidade, afinal, se nem sempre nos sentimos completos?
Podemos ter um casamento feliz, filhos saudáveis e viagens em todas as férias, mas sermos frustrados no trabalho. Podemos ter destaque profissional e amigos para toda hora, mas o casamento acabou e, junto com ele, foi-se embora toda alegria do amor. Também podemos ter uma família unida e não termos dívidas no banco, mas alguém muito próximo e querido descobriu recentemente ser portador de uma doença fatal.
Tom e Vinicius cantaram suavemente que “tristeza não tem fim, felicidade sim”. A gente trabalha o ano inteiro. A gente faz certo e faz errado. A gente batalha por um momento de sonho. E, quando chega dezembro, na época em que deveríamos apenas agradecer e festejar, vem aquela angústia pelas coisas que não correram bem, ou pela ausência do que um dia se fez presente.
“Ao relembrarmos nossas dores, abrimos caminho para o futuro.”
Por isso, hoje estamos aqui. Ao relembrarmos nossas dores, abrimos caminho para o futuro. Unidos em pensamentos tristes e alegres, avistamos a ponte de coragem que nos espera para o próximo ano.
Nem mesmo a falta de resposta a uma mensagem enviada com tanto afeto, ou a ausência dos braços que outrora nos abraçaram; nem mesmo a bronca do chefe, ou a ingratidão daqueles que não reconhecem nossa amizade; nem toda desavença, intriga ou morte que por ventura a vida nos traga, nada disso irá nos diminuir diante de nós mesmos. Estamos unidos por nossas dores de cada um e de todos nós. Somos gente que conquista a felicidade devagar, dia após dia, com garra e vontade.
Como disse Fernando Pessoa, “a minha tristeza é sossego, porque é natural e justa. E é o que deve estar na alma”. Nossa alma é como um pastor que conhece o vento, o sol e a chuva. Nas estações da vida, aprendemos a sentir e a olhar.
Repare. Há felicidade em todos os lugares: o rabinho agitado do seu cachorro ao te receber; o cheiro do café quentinho; a criança que aprende a falar. O livro novo que chega pelo correio; a gentileza feita por um desconhecido; o amigo distante que lhe faz uma ligação.
“A brisa da noite e o aroma das flores por onde você dança lhe prendem a atenção.”
Pense em uma canção alegre. Agora seus pés deslizam debaixo das estrelas e seus ouvidos não se importam com o barulho lá de fora. A brisa da noite e o aroma das flores por onde você dança lhe prendem a atenção. Então você pendura suas dores no varal da sua alma enquanto se delicia em sua valsa particular.
Agora sorrimos de verdade. A felicidade pode ser efêmera, mas ela sempre volta. Assim, o ano começa a partir. A tristeza nos dá um descanso porque somos felizes quando suportamos nossas dores.
Por: Rebeca Bedone
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